Vodafone Paredes de Coura

"Se é para sofrer, é a sério": o glamping chegou a Coura, mas há quem não troque um duche de água fria por nada

Para grande parte dos festivaleiros que frequentam o Vodafone Paredes de Coura, o festival é já sinónimo de acampamento. Chegar vários dias mais cedo para montar as tendas na natureza é um ritual para muitos. Mas, este ano, há outra opção para quem procura mais algum conforto... e tem dinheiro para pagá-lo.

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O glamping entrou com toda a força no Vodafone Paredes deCoura e esgotou muito antes do arranque do festival. Mas ainda há quem não troque por nada as noites mal dormidas e os duches de água fria.

"Leather Walls": tornar Paredes de Coura no "mais Coachella possível"

Filipe, de 31 anos, confessa que estava “com um grande hype” em relação ao glamping. Veio com os amigos de Braga preparado para tornar Paredes de Coura “o mais Coachella possível”. A influência do megalómano festival de música no deserto norte-americano está em todos os detalhes com que Filipe e o grupo decoram a tenda de glamping que alugaram.

Trouxemos uma bandeira e vamos grafitá-la para dizer “Leather Walls”, que é o nome do Paredes de Coura em inglês - uma piadinha interna”, conta entre risos.

Para acertar mesmo na "decoração festivaleira de luxo ao estilo americano", colocam também um espanta-espíritos com penas, uma “planta de estimação” - uma hortelã - para pôr à entrada da tenda e umas luzes ambiente. “À noite vai ficar incrível!”, antevê Filipe.

Só não encontrámos estátuas de budas, mas ia ser muito útil também”, brinca, enquanto coloca na cabeça um chapéu estilo cowboy, para entrar totalmente na vibe de festival de deserto.

Pedro Rebelo Pereira

Filipe explica que escolheram o glamping porque só podiam vir para Coura no próprio do festival. Não podíamos vir uns dias antes para garantir um bom spot e a ideia era ter um lugar próximo e mais tranquilo.” Com as tendas já fixas do glamping, o problema estava resolvido. Além disso, entre o grupo de amigos, há alguns médicos - “é gente que não se pode misturar no campismo com o resto da plebe”, atira, no gozo.

Mesmo assim, tem queixas: “Pensávamos que ia haver bastantes árvores e sombras, que íamos ter um território diferente”.

Os trunfos: água quente e eletricidade

A tenda noglampingestá equipada com camas, ventoinhas, geleiras, cabides para pendurar a roupa – e, aquilo que atrai muitos dos clientes, acesso a eletricidade e casa de banho privativa, com duche de água quente.

Pedro Rebelo Pereira

Os preços variam entre 425€ (por tendas para uma a duas pessoas) e 895€ (para uma tenda que leva até cinco pessoas).

Preços que, admite Filipe, só conseguiram pagar por terem “uma realidade profissional um bocado diferente da maioria da malta”.

“Para um jovem de 18 ou 19 anos, que é público-alvo deste festival, acredito que seja mais complicado aceder a esta zona de campismo.”

Apesar dos preços, as 310 tendas de glamping disponibilizadas no Vodafone Paredes de Coura esgotaram muito antes do arranque do festival. Uma boa parte dos clientes são estrangeiros.

Estrangeiros são grandes clientes: "Para nós, é barato"

É o caso de um grupo de amigos, com idades entre os 25 e os 27 anos, que encontramos à entrada da tenda, a relaxar. Vêm do Reino Unido e estão em Paredes de Coura pela primeira vez.

“Descobrimos o festival online e simplesmente viemos”, conta Zoe, natural de Londres.“Isto é muito agradável. Nos festivais no nosso país, está frio. Aqui, podemos tirar a camisola e descontrair”, continua o amigo Jordan.

Nem pensaram duas vezes antes de escolher o glamping, em vez do campismo normal.

“Viemos de avião. Trazer todo o equipamento para acampar connosco era demasiado. Assim é mais fácil”, explica Eva, que vive em Bristol.

“Para nós, é barato”, comenta Zoe.

“Nos festivais ingleses, é tão mais caro ter opções de campismo mais elegantes!”, nota Alice, outra integrante do grupo. “Para fazer glamping em Londres custaria umas 5 mil libras!”, atira Jordan.

Os amigos dizem, por isso, que não se arrependem de ter escolhido o glamping. “De todo.

"É mais isolado, mais elitista"

Pedro Rebelo Pereira

A uns cinco minutos a pé deles, contudo, há quem faça “campismo puro e duro” - e também não estão arrependidos.

“Quando se vem acampar, tem de se ligar o ‘chip’ e perceber que não é igual a casa”, refere Inês, de 35 anos, campista vinda de Coimbra.

“Uma pessoa habitua-se aos banhos frios”, garante, apesar de notar que “chega um momento em que as casas de banho já não estão assim tão impecáveis.”

“Há certas horas em que estão um bocadinho mais limpas e é tentar procurar ir nesses momentos”, adianta.

Para Inês, o glamping “nunca foi uma hipótese”. “Não é a mesma coisa. Aqui tu acabas por conviver com os vizinhos. Se alguém precisa de alguma coisa – um martelo, um saca-rolhas,... -, nós emprestamos e vice-versa. Ali é um bocadinho mais isolado, mais elitista.”

Também para Mariana, de 21 anos, é essa a “graça” da dinâmica do campismo. “Ontem até fomos à vila com o nosso vizinho ali do lado e com a namorada dele”, exemplifica. Diz gostar de ter uma “vivência verdadeira” e experienciar “o festival em todo o seu potencial”.

Ainda assim, não exclui, um dia, vir a experimentar o glamping: “Talvez um dia, quando formos muito ricas. Aqui ninguém trabalha, somos todas estudantes, para nós não dava.”

Pedro Rebelo Pereira

"O truque é dormir de dia"

Pedro, de 25 anos, oriundo de Sintra, chegou a equacionar a hipótese do glamping, mas decidiu que o campismo normal “faz parte da experiência”. “Se é para sofrer, é para sofrer a sério!”, ri. “Se fosse fácil, também não tinha piada.”

Chegou a Coura logo no domingo, com um grupo de amigos. Conta que demoraram muito a pôr de pé o “estaminé” - este nível de estabelecimento não se monta num dia!

Temos ali o nosso armazém”, diz enquanto aponta para uma pequena tenda. “À direita, estão os enlatados. À esquerda, estão os enfrascados e os frescos. Atrás, temos as geladeiras.

“Depois, temos aqui a zona de habitação, a zona de entretenimento, o barco”, refere, mostrando um insuflável de borracha é o nosso meio de transporte, também é estaleiro”. O acampamento fica completou com uma “cozinha pop up”, onde uma chef/DJ faz o almoço enquanto passa música.

Pedro Rebelo Pereira

Pedro elege como principal contrariedade do campismo a “falta de refrigeração”.

“Bichos, está-se bem - eles estavam cá primeiro. Chuva também é natural. Não haver maneira de refrigerar as coisas é que é um bocado chato. Temos ‘jola’ quente e ninguém merece!”

E eis que surge a pergunta para um milhão de dólares: como se consegue passar uma boa noite de sono numa tenda?“Se dormirmos quatro ou cinco horas seguidas já é bom, desabafa. “Vamos apanhando uma soneca ali, uma soneca aqui”, diz, quando, de repente, o rosto se ilumina, parecendo ter descoberto a grande resposta - “o truque é dormir de dia!