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Too Good To Go: "Temos de mudar a mentalidade sobre a comida e apreciá-la como recurso"

Uma refeição que não foi vendida num restaurante pode ganhar uma nova vida. Tal como os produtos de uma loja ou supermercado. A Too Good To Go quer reduzir o desperdício alimentar e, em dois anos, já salvaram mais de um milhão de refeições em Portugal, o que equivale a 2.500 toneladas de CO2 evitadas. Mette Lykke, CEO da empresa, explica que é preciso mudar a relação que temos com a comida e começar a agir a partir de casa.

Too Good To Go: "Temos de mudar a mentalidade sobre a comida e apreciá-la como recurso"
Filipa Traqueia

O desperdício alimentar é um problema que conhecemos há muito tempo, mas que se mantém. O que podemos fazer para resolvê-lo?

A um nível geral, o que temos de fazer é mudar a nossa mentalidade sobre a comida e apreciá-la como recurso que realmente é. Por isso é que na Too Good To Go tentamos criar um movimento contra o desperdício alimentar. O que podemos fazer enquanto consumidores, nas nossas próprias casas, é seguir alguns truques bastante básicos. Um deles é planear as compras, apenas comprar o que sabem que vão mesmo precisar durante a semana, garantir que usa o que sobra em receitas adicionais. Certificar-se que conserva a comida corretamente e depois – também muito importante – perceber a indicações da data [de validade]. Na Europa temos o “consumir de preferência antes de” e o “consumir até”. O “consumir de preferência antes de”, na verdade, significa que deve usar os seus sentidos antes de decidir se deve deitar fora a comida ou comê-la. Se parece boa, se cheira bem e se sabe bem é perfeitamente seguro comer o produto. Não o deite fora, dê-lhe uma segunda oportunidade.

Sobre esta falta de conhecimento sobre o fim da validade dos produtos, acredita que contribui para o desperdício alimentar?

Sim, a confusão à volta da validade é responsável por 20% do desperdício que acontece nas casas. É um contributo grande e é algo para o qual gostaríamos de educar as pessoas.

Quando vamos ao supermercado vemos uma exposição de comida e compramos o que vemos. Acredita que esta relação com a comida deveria mudar para termos menos desperdício alimentar?

Acredito que vamos sempre exigir opções. Quando vamos ao supermercado ou à padaria esperamos que haja bastantes produtos nas prateleiras. Eu acho que isso é bom. Nós só temos de ter um plano melhor para o que fazemos no final do dia. Claro que não conseguimos prever de forma precisa o que será vendido, é por isso que temos de ter mais ferramentas implementadas e a Too Good To Go é definitivamente uma dessas ferramentas. Eu posso debater se como padeiro ou como um supermercado os usamos corretamente, mas podemos chegar muito perto do desperdício zero.

Temos também uma enorme diferença no mundo: temos desperdício alimentar de um lado e fome do outro. Na sua opinião, como podemos reduzir esta diferença e como é que empresas como a Too Good To Go podem ajudar?

Penso que é um dos maiores paradoxos do nosso tempo: produzimos comida mais do que suficiente para todas as pessoas no planeta, mas continuamos a 800 milhões de pessoas vão dormir com fome. Claramente não distribuímos bem a comida. Para a Too Good To Go, nós recentemente acrescentamos à nossa estratégia a ideia de que queremos reduzir a insegurança alimentar, ainda não anunciamos como nos vemos a desempenhar um papel mas reconhecemos que muita comida passa pela nossa plataforma todos os dias, por isso queremos ajudar. Devo também dizer que a comida na Too Good To Go está normalmente com um desconto de 70% por isso nós tornamos a comida de qualidade mais acessível para muitos utilizadores.

De onde surgiu a ideia para a Too Good To Go e quais são os principais objetivos do projeto?

Os nossos fundadores aperceberam-se que no final do dia muitos empresários estavam a atirar fora comida e começaram a pensar porque é que esta comida tinha valor cinco minutos antes e agora era basicamente obsoleta. E tiveram esta ideia de criar uma segunda oportunidade, um segundo mercado e foi assim que a Too Good To Go nasceu.

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Em quantos países opera a Too Good To Go e qual o balanço da aplicação em Portugal?

A Too Good To Go está atualmente em 17 países – 15 na Europa, mais os Estados Unidos e o Canadá. Estamos em Portugal há cerca de dois anos e estamos muito felizes por termos salvado um milhão de refeições cá. Quase um milhão de pessoas inscreveram-se na nossa comunidade e trabalhamos com cerca de quatro mil parceiros – padarias, supermercados, restaurantes, etc.

Fala-se muito se sustentabilidade e alterações climáticas, mas o desperdício alimentar costuma passar despercebido. O que é que a sociedade pode fazer para enfrentar este problema e resolvê-lo?

A primeira parte é realmente a consciencialização, porque a maior parte das pessoas não vê o desperdício alimentar como parte dos problemas ambientais. Definitivamente é: 10% de todos os gases de estufa emitidos vêm de comida que desperdiçamos. É o problema real e penso que é um problema parvo porque não estamos a ganhar nada com isto, é apenas um massivo desperdício. O problema está na mentalidade, temos de agir: o desperdício em casa é metade de todo o desperdício que acontece na Europa. Mas também os empreendedores, produtores e proprietários de lojas têm a responsabilidade de fazer um plano e segui-lo através de ações.

Agora sobre Lisboa: já alguma vez tinha visitado a cidade? Qual a zona que mais gosta?

Já cá tive duas vezes, já vim à Web Summit antes e também cá estive com a minha irmã e a minha mãe para uns dias de passeio. Eu adorei a cidade, especialmente a zona histórica. Se tiver tempo gostaria de visitar as ruas antigas, simplesmente caminhar para ver a história, cultura e a atmosfera. E a comida é também muito boa.

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