Em 2019, Bárbara Oliveira juntou-se a Aaron Hannon e a Martin O'Halloran para criar a Luminate Medical - uma empresa que quer melhorar os tratamentos médicos para os pacientes. O primeiro projeto da equipa tem precisamente esse objetivo: prevenir a queda de cabelo durante as sessões de quimioterapia. Desde que iniciou a formação, Bárbara sempre teve “um interesse muito grande em combinar a ciência e as pessoas”. A co-fundadora da Luminate Medical defende que é preciso pensar os tratamentos com os pacientes e acredita que a tecnologia pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
A Luminate Medical desenvolveu um dispositivo inovador para evitar a queda de cabelo durante os tratamentos de quimioterapia: o projeto LILY. Como funciona este tratamento e qual a eficácia?
O LILY é o primeiro dispositivo da Luminate Medical para prevenir a queda de cabelo durante a quimioterapia. Nós usamos uma tecnologia de compressão para prevenir a queda de cabelo. Como funciona: ao aplicar a compressão, estamos a reduzir a quantidade de fluxo sanguíneo que chega aos folículos capilares, que ficam menos suscetíveis à quimioterapia e acabam por ser preservados.
O funcionamento é algo similar às tecnologias de criogenia, que já existem no mercado para o mesmo propósito. Mas o nosso dispositivo LILY funciona de uma maneira muito mais confortável e é também um dispositivo portátil. Nós queremos que se encaixe no tratamento do paciente, na clínica, e que não cause mais transtorno do que benefício.
O projeto LILY já está disponível no mercado? Quanto tempo demora o tratamento e como se processa?
O nosso dispositivo ainda não está disponível no mercado, encaminhamo-nos agora para ensaios clínicos. Sobre o funcionamento: o paciente tem de usar o dispositivo uns minutos antes da quimioterapia começar, durante e mais meia após o tratamento. É usado durante cada sessão de quimioterapia, cada vez que o paciente vem ao hospital para receber o tratamento.
Na sua opinião, qual o papel da tecnologia para melhorar a experiência do paciente em ambiente hospitalar e em tratamentos de longa duração?
Essa é uma das razões pelas quais estou na Web Summit. A tecnologia pode ter um papel super importante ao encaixar-se no tratamento do paciente e fazer com que seja melhor. O que temos verificado no mercado é que, às vezes, os dispositivos [médicos] não são desenvolvidos com o paciente em mente e acabam por causar tratamentos com vários efeitos secundários, que não são confortáveis para o paciente. Nós queremos alterar esse paradigma. Queremos desenvolver um dispositivo confortável para o paciente, que é usado de acordo com a sua medida e que não causa mais transtorno.
Já existem alguns exemplos de dispositivos que são desenvolvidos com o paciente em mente, é uma tendência que está cada vez mais a aumentar - e ainda bem. Mas, de facto, não é uma coisa que exista muito no mercado. É mesmo isso que queremos fazer.
Quais são as próximas fases do projeto LILY? Pretendem exportar esta tecnologia para outros países?
Nós começámos em 2019 e fizemos todo aquele caminho que as startups de dispositivos médicos fazem inicialmente. Fizemos estudos animais, fizemos estudos com voluntários saudáveis e o próximo passo é passar para o paciente. O nosso primeiro ensaio clínico está previsto começar em fevereiro de 2023 - já daqui a uns meses, está quase. É uma altura muito boa para nós, de muito trabalho. Este ensaio, para o qual nos estamos a preparar, é relativamente pequeno. Iremos, depois, preparar-nos para um ensaio mais longo, com mais pacientes que vai decorrer tanto na Europa como nos Estados Unidos.
O nosso primeiro objetivo é comercializar nos EUA porque já existem dispositivos de criogenia e nós queremos entrar [nesse mercado] com o nosso dispositivo. Depois queremos voltar imediatamente para a Europa e entrar nos principais mercados - Irlanda, onde estamos sediados, Portugal, onde está a acontecer a Web Summit. Os principais mercados da Europa são os nossos primeiros objetivos para os próximos anos.
Pretendem desenvolver projetos para outros efeitos secundários associados ao tratamento de quimioterapia? Qual o futuro da Luminate Medical?
Nós queremos trazer produtos para o mercado que contribuam para a qualidade de vida do paciente. Essa é a nossa missão, a que nos propomos e para o qual trabalhamos todos os dias. Nós identificámos a quimioterapia como um tratamento que tem muito sucesso no que se propõe a fazer - que é acabar com o cancro -, mas tem também imensos efeitos secundários - o mais visível de todos sendo a queda do cabelo, em que nós estamos a trabalhar agora.
Existem muitos outros [efeitos secundários], nomeadamente as neuropatias periféricas - quando as pessoas perdem a sensação nos dedos das mãos e dos pés. E já temos um projeto inicial: estamos a explorar usar a mesma tecnologia de compressão para neuropatia periférica. Depois expandiremos para outros efeitos secundários da quimioterapia, sempre no espaço dos dispositivos médicos.
Para já vamos focar-nos na quimioterapia, mas a nossa tecnologia de compressão poderá ter outras aplicações noutros espaços. Para já, será para efeitos secundários da quimioterapia e depois expandimos para outras áreas que precisem desta modelação de fluxo sanguíneo, que nós sabemos fazer de forma eficaz e segura.