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Evitar queda de cabelo: Bárbara Oliveira quer melhorar a vida de quem tem cancro

A startup Luminate Medical tem como objetivo melhorar a qualidade de vida dos pacientes com cancro. Foi a pensar nos efeitos secundários da quimioterapia que decidiram criar o projeto LILY. Bárbara Oliveira, co-fundadora da startup, afirma que a tecnologia tem um papel muito importante, quando é desenvolvida com o paciente em mente.

Evitar queda de cabelo: Bárbara Oliveira quer melhorar a vida de quem tem cancro
Ana Isabel Pinto

Em 2019, Bárbara Oliveira juntou-se a Aaron Hannon e a Martin O'Halloran para criar a Luminate Medical - uma empresa que quer melhorar os tratamentos médicos para os pacientes. O primeiro projeto da equipa tem precisamente esse objetivo: prevenir a queda de cabelo durante as sessões de quimioterapia. Desde que iniciou a formação, Bárbara sempre teve “um interesse muito grande em combinar a ciência e as pessoas”. A co-fundadora da Luminate Medical defende que é preciso pensar os tratamentos com os pacientes e acredita que a tecnologia pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

A Luminate Medical desenvolveu um dispositivo inovador para evitar a queda de cabelo durante os tratamentos de quimioterapia: o projeto LILY. Como funciona este tratamento e qual a eficácia?

O LILY é o primeiro dispositivo da Luminate Medical para prevenir a queda de cabelo durante a quimioterapia. Nós usamos uma tecnologia de compressão para prevenir a queda de cabelo. Como funciona: ao aplicar a compressão, estamos a reduzir a quantidade de fluxo sanguíneo que chega aos folículos capilares, que ficam menos suscetíveis à quimioterapia e acabam por ser preservados.

O funcionamento é algo similar às tecnologias de criogenia, que já existem no mercado para o mesmo propósito. Mas o nosso dispositivo LILY funciona de uma maneira muito mais confortável e é também um dispositivo portátil. Nós queremos que se encaixe no tratamento do paciente, na clínica, e que não cause mais transtorno do que benefício.

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O projeto LILY já está disponível no mercado? Quanto tempo demora o tratamento e como se processa?

O nosso dispositivo ainda não está disponível no mercado, encaminhamo-nos agora para ensaios clínicos. Sobre o funcionamento: o paciente tem de usar o dispositivo uns minutos antes da quimioterapia começar, durante e mais meia após o tratamento. É usado durante cada sessão de quimioterapia, cada vez que o paciente vem ao hospital para receber o tratamento.

Na sua opinião, qual o papel da tecnologia para melhorar a experiência do paciente em ambiente hospitalar e em tratamentos de longa duração?

Essa é uma das razões pelas quais estou na Web Summit. A tecnologia pode ter um papel super importante ao encaixar-se no tratamento do paciente e fazer com que seja melhor. O que temos verificado no mercado é que, às vezes, os dispositivos [médicos] não são desenvolvidos com o paciente em mente e acabam por causar tratamentos com vários efeitos secundários, que não são confortáveis para o paciente. Nós queremos alterar esse paradigma. Queremos desenvolver um dispositivo confortável para o paciente, que é usado de acordo com a sua medida e que não causa mais transtorno.

Já existem alguns exemplos de dispositivos que são desenvolvidos com o paciente em mente, é uma tendência que está cada vez mais a aumentar - e ainda bem. Mas, de facto, não é uma coisa que exista muito no mercado. É mesmo isso que queremos fazer.

Quais são as próximas fases do projeto LILY? Pretendem exportar esta tecnologia para outros países?

Nós começámos em 2019 e fizemos todo aquele caminho que as startups de dispositivos médicos fazem inicialmente. Fizemos estudos animais, fizemos estudos com voluntários saudáveis e o próximo passo é passar para o paciente. O nosso primeiro ensaio clínico está previsto começar em fevereiro de 2023 - já daqui a uns meses, está quase. É uma altura muito boa para nós, de muito trabalho. Este ensaio, para o qual nos estamos a preparar, é relativamente pequeno. Iremos, depois, preparar-nos para um ensaio mais longo, com mais pacientes que vai decorrer tanto na Europa como nos Estados Unidos.

O nosso primeiro objetivo é comercializar nos EUA porque já existem dispositivos de criogenia e nós queremos entrar [nesse mercado] com o nosso dispositivo. Depois queremos voltar imediatamente para a Europa e entrar nos principais mercados - Irlanda, onde estamos sediados, Portugal, onde está a acontecer a Web Summit. Os principais mercados da Europa são os nossos primeiros objetivos para os próximos anos.

Ana Isabel Pinto

Pretendem desenvolver projetos para outros efeitos secundários associados ao tratamento de quimioterapia? Qual o futuro da Luminate Medical?

Nós queremos trazer produtos para o mercado que contribuam para a qualidade de vida do paciente. Essa é a nossa missão, a que nos propomos e para o qual trabalhamos todos os dias. Nós identificámos a quimioterapia como um tratamento que tem muito sucesso no que se propõe a fazer - que é acabar com o cancro -, mas tem também imensos efeitos secundários - o mais visível de todos sendo a queda do cabelo, em que nós estamos a trabalhar agora.

Existem muitos outros [efeitos secundários], nomeadamente as neuropatias periféricas - quando as pessoas perdem a sensação nos dedos das mãos e dos pés. E já temos um projeto inicial: estamos a explorar usar a mesma tecnologia de compressão para neuropatia periférica. Depois expandiremos para outros efeitos secundários da quimioterapia, sempre no espaço dos dispositivos médicos.

Para já vamos focar-nos na quimioterapia, mas a nossa tecnologia de compressão poderá ter outras aplicações noutros espaços. Para já, será para efeitos secundários da quimioterapia e depois expandimos para outras áreas que precisem desta modelação de fluxo sanguíneo, que nós sabemos fazer de forma eficaz e segura.