Meteorologia

Pequim regista chuvas mais intensas dos últimos 140 anos

No sábado, em apenas 40 horas, a capital chinesa registou o equivalente à precipitação média de um mês inteiro de julho. O tufão Doksuri tem varrido a China de sudeste para norte desde sexta-feira.

Pequim regista chuvas mais intensas dos últimos 140 anos
TINGSHU WANG

A capital da China, atingida por inundações mortíferas, sentiu nos últimos dias as chuvas mais intensas em pelo menos 140 anos, quando os registos começaram, avançaram esta quarta-feira os serviços meteorológicos de Pequim.

"O valor máximo" de chuva registado entre a noite de sábado e a manhã desta quarta-feira em uma estação da cidade foi de 744,8 milímetros, sendo a "chuva mais forte em 140 anos", segundo o Serviço Meteorológico de Pequim.

Os levantamentos precisos começaram em 1883. "O recorde anterior (...) antes do atual episódio chuvoso" tinha sido estabelecido em 1891, com 609 milímetros, sublinhou a agência.

As chuvas torrenciais que atingiram Pequim e a província vizinha de Hebei, no norte da China, deixaram pelo menos 20 mortos e 27 desaparecidos, segundo a imprensa oficial chinesa.

As cheias levaram rios a transbordar, arrastando estradas, veículos, casas e árvores, cortaram vias de telecomunicação e causaram deslizamentos de terra.

Cerca de 13 rios ultrapassaram os níveis de alerta na Bacia de Haihe, que inclui Pequim, Tianjin e Shijiazhuang, disse a agência de notícias oficial Xinhua, citando o Ministério de Recursos Hídricos chinês.

O fornecimento de energia para cerca de 60 mil casas no distrito de Fangshan, na capital, foi interrompido, informou a televisão Phoenix TV.

As imagens divulgadas pela imprensa e redes sociais mostram cenas de caos, com pessoas presas em veículos ou nas suas casas.

Tufão Doksuri

O tufão Doksuri, revisto para uma tempestade tropical, tem varrido a China de sudeste para norte desde sexta-feira, dia em que atingiu a província de Fujian, no leste do país, depois de passar pelas Filipinas, onde causou pelo menos 25 mortos.

Chuvas torrenciais começaram a atingir a área metropolitana de Pequim no sábado. Em apenas 40 horas, a capital chinesa registou o equivalente à precipitação média de um mês inteiro de julho.

As fortes chuvas mataram pelo menos 11 pessoas só na capital, incluindo um bombeiro que participava nas operações de resgate, e causaram milhares de desalojados, informou a televisão estatal CCTV.

Milhares de pessoas foram retiradas para abrigos em escolas e outros prédios públicos nos subúrbios de Pequim e nas cidades vizinhas de Tianjin e Zhuozhou.

Em Zhuozhou, a sudoeste de Pequim, cerca de 125 mil pessoas foram transferidas de áreas de alto risco para abrigos, disse a Xinhua.

A autarquia de Tianjin, um porto a leste de Pequim, disse que 35 mil pessoas foram retiradas de perto do rio Yongding.

Na província vizinha de Hebei, o mau tempo deixou pelo menos nove mortos e seis desaparecidos, segundo a CCTV.

Cerca de 42 mil pessoas foram retiradas de várias áreas da província de Shanxi, a oeste de Hebei, informou a Xinhua, citando autoridades dos serviços de emergência.

A China está a enfrentar clima extremo e altas temperaturas recordes neste verão, eventos que os cientistas dizem serem exacerbados pelas mudanças climáticas.

China prevê mais inundações e tufões este mês

A China enfrenta um alto risco de inundações e tufões em agosto, informou o jornal oficial Global Times, após a passagem do tufão Doksuri.

Segundo um documento publicado em conjunto por organizações como a Comissão Nacional para a Redução de Catástrofes, o Ministério dos Assuntos Civis e o Ministério de Gestão de Emergências, o norte do país vai sofrer altas temperaturas e seca em agosto, enquanto algumas áreas no sul e leste da China vão registar precipitações acima da média, com maior risco de catástrofes naturais, incluindo cheias, inundações urbanas e agrícolas, fortes rajadas de vento ou granizo.

As partes superiores do rio Yangtsé e do lago Poyang, no centro do país, podem sofrer inundações acima dos níveis de alerta, alertaram as agências.

As autoridades preveem que quatro ondas de calor vão atingir várias partes do país em agosto.

E notaram que a China enfrenta um pico crucial de consumo de eletricidade no verão, algo que já causou problemas de abastecimento durante a seca do verão passado, no centro do país.

As autoridades também alertaram para incêndios florestais em algumas partes de Sichuan (centro), Chongqing (centro) e Xinjiang (oeste).

Em 2021 e 2022, os verões ficaram marcados por chuvas de intensidade sem precedentes em décadas no centro do país, que causaram mais de 300 mortos, e por uma seca persistente no sudoeste e sul.Song Lianchun, meteorologista do Centro Meteorológico Nacional, declarou:

"Não podemos dizer que um evento climático extremo seja causado diretamente pelas alterações climáticas, mas, a longo prazo, o aquecimento global causa um aumento na intensidade e frequência destes eventos".