Carlos da Câmara, climatologista, explica que os fenómenos cada vez mais extremos se devem a fatores estruturais (na emissão de gases do efeito de estufa) e conjunturais (El Ninõ). Na SIC Notícias, diz que é um alerta de que o sistema climático tem agora "muito mais propensão" para fenómenos "muito intensos".
O especialista lembra que várias instituições europeias alertaram, no início do ano, que 2023 ia ser "particularmente complicado" do ponto de vista de eventos extremos.
Nesse sentido, apresenta dois fatores que "convergem" e fazem com que aconteçam "perturbações muitíssimo mais intensas" do que o habitual.
Em primeiro lugar, indica uma alteração estrutural:
"A emissão de gases do efeito de estufa, que fazem com que parte da energia infravermelha que é reemitida pelos oceanos e pela atmosfera para o espaço seja dificultada. Quer dizer que há mais energia retida na atmosfera, portanto, tem de ser dissipada. Como é que é dissipada? Ou através do movimento, de ventos muito fortes, como o caso destes furacões muito intensos, ou através da libertação de calor por condensação. Como a atmosfera está mais quente, há mais vapor de água e esse vapor de água quando se transforma em água, há uma enorme libertação de energia".
Para o climatologista, estes eventos extremos são também influenciados por um fator conjuntural: ano de El Ninõ.
"Quando há um ano de El Ninõ, há um enfraquecimento dos ventos alísios, que sopram das regiões intertropicais para o Equador, a que se junta um aumento brutal da temperatura do Oceano Pacífico. Com Oceano Pacifico muito quente, há uma emissão muito grande de vapor de água e também há uma libertação de calor que entra também para a atmosfera".
Carlos da Câmara exemplifica "duas faces da mesma moeda": enquanto no Reino Unido e na Europa central tivemos temperaturas elevadas, em Espanha e na Roménia assistimos a tempestades.
"É um alerta para que as pessoas percebam que o sistema climático tem muito mais propensão para haver fenómenos muito intensos e espalhados pelo mundo inteiro", diz.