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Vítimas do franquismo espanhol dizem ter recorrido a Baltasar Garzón por pretenderem "justiça"

Representantes de vítimas do franquismo afirmaram no Supremo Tribunal espanhol terem recorrido à Audiência Nacional porque pretendiam "justiça" depois de inúmeras ações sem êxito para localizar familiares desaparecidos. 

Juiz Baltasar Garzón
© Susana Vera / Reuters

Os testemunhos foram ouvidos pelo Supremo no âmbito do julgamento ao magistrado Baltasar Garzón por ter investigado os desaparecimentos da Guerra Civil e do franquismo em Espanha. 

A queixa foi apresentada por uma organização de extrema-direita, a "Manos Limpias", e o Supremo Tribunal rejeitou os pedidos de anulação apresentados pela procuradoria espanhola e pela defesa do magistrado que questionaram a forma como a instrução do processo foi conduzida. 

O Supremo permitiu que representantes das associações que interpuseram os pedidos iniciais de investigação na Audiência Nacional -- conduzidos depois por Baltasar Garzón -- declarassem no âmbito do processo. 

 É a primeira vez que familiares das vítimas descrevem em tribunal o que aconteceu a alguns dos desaparecidos do período da Guerra Civil e do franquismo em Espanha. 

Pino Sosa, representante da associação pela Memória Histórica de Araucas na Gran Canária, foi uma das testemunhas ouvidas hoje pelo tribunal, onde referiu que muitos familiares das vítimas continuam sem saber o destino dos corpos. 

"Levaram-nos de casa, maltrataram-nos, mantiveram-nos presos. Quando levaram o meu pai, eu era muito pequena. Levaram o pão e o sal de nossas casas. A minha mãe morreu doente depois do seu desaparecimento", disse.

Relato idêntico foi feito por María Martín López, 81 anos, da associação Sierra de Gredos, que recordou hoje o que aconteceu com a sua mãe, a 21  de setembro de 1936. 

"Mataram-na. Levaram-na para a rua, ia declarar em Arenas de San Pedro mas deixaram-na no caminho. Mataram 27 homens e três mulheres", disse, explicando que o corpo da sua mãe está numa vale comum com outros cinco corpos. 

As duas testemunhas explicaram terem feito, em 2006, uma queixa na Audiência Nacional, depois de terem falhado todas as suas tentativas de localizar familiares, tendo apresentado na altura listas com centenas de desaparecidos.

As testemunhas foram questionadas sobre a razão pela qual optaram por recorrer à Audiência Nacional se outros tribunais já as tinham informado de que os delitos tinham prescrito. 

Pino Sosa explicou terem sido informados de que os crimes não tinham prescrição e que foi pelo atraso nas respostas dos tribunais o que motivou o recurso à Audiência Nacional. 

O julgamento de Garzón continua hoje à tarde com a audição de mais representantes de associações de Memória Histórica. 

Lusa