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ONU estuda pedido a Damasco de acesso das agências humanitárias à população síria 

O Conselho de Segurança (CS) das Nações  Unidas deverá analisar na segunda-feira um projeto de declaração que pede  a Damasco o acesso das agências humanitárias da ONU à população síria. 

© Stringer . / Reuters

O texto deverá pedir especificamente a autorização de comboios de ajuda  humanitária provenientes de países vizinhos, mas a Rússia, membro permanente  do CS e aliada do regime do presidente sírio Bachar al-Assad, deverá opor-se  à possibilidade da ajuda entrar na Síria através de zonas fronteiriças controladas  pela oposição, indica a AFP, que cita fontes diplomáticas.  

Este projeto de declaração da presidência - que não é uma resolução  e requer a unanimidade do CS - é proposto pelo Luxemburgo e pela Austrália,  país que preside ao organismo até ao final de setembro e está particularmente  empenhado na adoção rápida da declaração.  

Trata-se, de acordo com as fontes contactadas pela AFP, de aproveitar  o bom momento diplomático iniciado na passada sexta-feira, 27, dia em que  o Conselho adotou a sua primeira resolução sobre a Síria desde o início  do conflito em março de 2011, um texto que autoriza a destruição de armas  químicas detidas pelo regime de Assad. 

No projeto de declaração - texto a que a AFP teve acesso -, o Conselho  declara-se "consternado pelo nível crescente e inaceitável da violência  e pela morte de mais de 100 mil pessoas na Síria".  

O CS "condena" ainda as "violações dos direitos do homem e das leis  humanitárias internacionais pelas autoridades sírias", mas também as violências  cometidas por "grupos armados", numa referência à oposição, e os "atentados  terroristas" cometidos por grupos ligados à Al Qaida.  

O texto pressiona Damasco a "tomar de imediato medidas para facilitar  a extensão das operações de ajuda humanitária e a terminar as dificuldades  burocráticas ou outros obstáculos" colocados à entrega de ajuda.  

Cerca de cinco milhões de sírios foram deslocados ou forçados ao exílio  pela guerra, mas, de acordo com a ONU, o Governo de Damasco reduziu a autorização  de visas às agências humanitárias e à ONU, assim como colocou condições  estritas à entrega de ajuda, em particular nas zonas controladas pela oposição.

O texto pede ainda às autoridades sírias que facilitem a importação  "meios de comunicação, veículos blindados, equipamentos médicos, em particular  de cirurgia, necessários às operações humanitárias".  

O parágrafo mais controverso, segundo a AFP, deverá ser aquele em que  o CS convida Damasco a autorizar "um acesso livre e seguro à população que  necessite de ajuda, pelos meios mais eficazes, incluindo através das linhas  da frente e, quando se justificar, através das fronteiras com os países  vizinhos".   

Há muitos meses que a chefe das operações humanitárias da ONU, Valerie  Amos, pede que o Conselho consiga a autorização destes itinerários, mas  Damasco tem-se oposto à possibilidade da ajuda vir a beneficiar a oposição,  que controla várias zonas junto à fronteira, sobretudo no norte, na linha  de separação com a Turquia.  

"A Rússia também colocou objeções a este objetivo nas negociações anteriores  e é preciso agora ver se a sua atitude mudou com a adoção da última resolução"  sobre as armas químicas, disse sob o anonimato à AFP um diplomata.  

Moscovo votou favoravelmente a resolução aprovada na sexta-feira, depois  de se ter oposto a três textos votados até aí.  

A Austrália e o Luxemburgo estão a trabalhar nesta declaração desde  abril, mas o dossier das armas químicas reclamou a atenção dos países membros  do CS.  

O embaixador australiano junto do CS da ONU, Gary Quinlan, anunciou  na passada sexta-feira que o seu país iria tentar submeter o texto à discussão  com o objetivo da sua adoção no início da semana.  

"A catástrofe humanitária não para de se agravar", todos os dias chegam  6 mil novos refugiados aos países vizinhos da Síria, sublinhou.  

Lusa