"É um ciclo vicioso difícil de parar", admite à Lusa Carlos Garcia, responsável do Conselho de Colégios Maiores Universitários de Espanha.
"Por isso tentamos com os alunos, com os pais no momento da matrícula, com as universidades e com os grupos políticos para reformar leis que estão obsoletas e para endurecer as sanções", explicou.
No intuito de combater o problema das praxes estão em curso em Espanha várias iniciativas, nomeadamente dentro do próprio espaço universitário, para consciencializar, informar e travar uma prática cada vez mais criticada.
Uma das iniciativas mais recentes data do arranque do ano letivo em curso, em setembro, quando cerca de 160 colégios maiores, residências universitárias e várias faculdades, incluindo a Complutense de Madrid, a de Navarra e a de Saragoça, se uniram num manifesto contra as praxes.
O texto baseia-se numa investigação levada a cabo em várias universidades, que descreve o fenómeno e sugere ações para combater o problema.
"Estamos totalmente empenhados em combater isto, para que as praxes desapareçam do âmbito académico", disse Carlos Garcia, recordando que desde a aprovação do manifesto foram expulsos vários alunos, por praxes, de vários colégios maiores.
Igualmente empenhados em combater as praxes está a plataforma "nomasnovatadas", (não mais praxes) criada na Corunha (Galiza) em 2011 uma semana antes de um dos casos mais graves, do passado recente, de praxes em Espanha.
Em outubro de 2011 três estudantes recém-chegados ao Colégio Maior San Agustín, em Santiago de Compostela, tiveram que ser hospitalizados com graves lesões nos olhos depois de lhes terem lançado à cara um detergente muito corrosivo durante uma praxe.
Humilhação, acosso, relações de domínio-submissão e práticas perigosas, incluindo obrigar os jovens a beber, fazem hoje parte da realidade das praxes em Espanha que investigadores consideram uma forma de bullying.
Loreto González, a psicóloga que fundou a plataforma "nomasnovatadas" reconhece a dificuldade de combater o problema e que apesar "de haver cada vez mais vozes críticas" quando começar o novo ano letivo, em setembro "voltaram os casos de abusos e de vexações".
"Temos que atuar de duas formas, com medidas de tipo educativo, que são fundamentais, mas demoram muitos anos e com mais normas e leis que impeçam que estes atos se cometam com total impunidade", disse à Lusa.
"É da responsabilidade de uma sociedade ensinar aos jovens que as nossas ações têm consequências. Estas foram práticas consentidas durante muitos anos mas não têm sentido hoje em dia", considerou.
Ainda que as praxes não estejam tipificadas como crime no Código Penal, os críticos dessa prática referem o artigo VII da lei espanhola que prevê penas de prisão de até seis meses para quem "inflija a outra pessoa um trato degradante, menosprezando gravemente a sua integridade moral".
Estabelece ainda penas idênticas para quem "prevalecendo-se da sua relação de superioridade, realize contra outro de forma reiterada atos hostis ou humilhantes que, sem chegar a constituir trato degradante representem grave acosso contra a vítima".
Referências ao estatuto do universitário, à Constituição espanhola e até à declaração Universal dos Direitos Humanos são usados pela "nomásnovatadas" para defender alterações à prática e sanções e penas mais duras.
"As leis estão obsoletas, completamente desatualizadas. Em alguns casos datam de 1958. Por isso ficamos limitados a tentar que as vítimas denunciem os casos. Recorram às residências ou ao Defensor do Universitário", disse Carlos Garcia.
"Não podemos continuar a permitir estes abusos", afirmou.
Lusa