Seis milhões de pessoas no Iémen estão "numa situação grave de insegurança alimentar", disse Hilal Elver, num comunicado hoje divulgado, destacando o caso das crianças iemenitas.
"A situação das crianças é particularmente alarmante, os relatórios indicam que 850 mil sofrem de subnutrição grave, um número que poderá chegar aos 1,2 milhões nas próximas semanas se o conflito persistir nos níveis atuais", disse a relatora.
O conflito no Iémen acentuou-se em fevereiro último com a tomada da capital, Sanaa, pelas milícias xiitas 'huthis' e a consequente fuga do Presidente iemenita Abd Rabbo Mansur Hadi para a segunda cidade do país, Aden, e, perante o avanço dos rebeldes, para a Arábia Saudita.
Em meados de março, uma ofensiva militar conduzida por uma aliança árabe, liderada pela Arábia Saudita (sunita), iniciou raides aéreos para tentar travar o avanço das milícias xiitas.
Aden foi reconquistada em meados de julho aos rebeldes pelas forças leais ao presidente Abd Rabbo Mansur Hadi.
Segundo Hilal Elver, os civis iemenitas não estão a ter acesso a alimentos básicos, situação provocada, em parte, pelos grupos armados que controlam os centros populacionais e impedem o acesso aos bens alimentares.
"O cerco de várias províncias, como Aden, Al Dhali, Lahj e Taiz, tem impedido o acesso da população civil a bens alimentares básicos, como o trigo", referiu o documento da relatora, que também indicou que os raides aéreos da coligação árabe registados naquele território têm atingido igualmente mercados locais e camiões de transporte de alimentos.
"Matar à fome, de forma deliberada, a população civil em conflitos internacionais ou internos pode constituir um crime de guerra, e também pode constituir um crime contra a humanidade caso exista bloqueio de alimentos e de fornecimento", advertiu a perita da ONU, sem atribuir a responsabilidade desta situação a uma fação específica do conflito.
Hilal Elver também manifestou preocupação pelo acesso à água potável e à alimentação por parte dos prisioneiros, recordando ainda que o Iémen importa 80% dos seus bens alimentares.
Em outro comunicado, e depois de uma visita de três dias ao país, o chefe do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Peter Maurer, afirmou que "o Iémen está a desagregar-se".
"A situação humanitária é no mínimo catastrófica", acrescentou o representante.
A guerra no Iémen, o país mais pobre da península arábica, fez cerca de 4.000 mortos, metade deles civis, segundo as Nações Unidas.
O CICV estima que o conflito provocou 1,3 milhões de deslocados.
Lusa