Nos últimos anos, as dietas sem glúten tornaram-se muito populares. Um inquérito feito em 2015 revelou que 25% dos norte-americanos consumiam produtos sem glúten, contra os 8% registados em 2013.
No entanto, a doença celíaca é muito rara, menos de 1% dos norte-americanos sofrem deste problema, na Europa estima-se uma prevalência entre 0,2 a 1,2% e, em Portugal, não há ainda dados. É uma doença autoimune do intestino, sensível ao glúten que, ingerido, "leva o organismo a desenvolver uma reacção imunológica contra o próprio intestino delgado, provocando lesões na sua mucosa que se traduzem pela diminuição da capacidade de absorção dos nutrientes", explica a Associação Portuguesa de Celíacos.
A ideia de que uma dieta sem glúten é saudável é um mito
Especialistas norte-americanos alertam que muitas pessoas têm ideias erradas sobre o glúten ou não sabem que uma dieta sem esta proteína de cereais como o trigo, o centeio, a cevada e a aveia traz alguns riscos, revelam num estudo publicado no The Journal of Pediatrics.
"Preocupados com a saúde das crianças, os pais retiram da alimentação produtos com glúten, acreditando que assim podem prevenir a doença celíaca ou que esta é uma alternativa saudável, sem sequer testarem se a criança é celíaca ou consultarem um nutricionista", afirma um dos autores do estudo Dr. Norelle R. Reilly gastrenterologista pediátrico na Universidade de Columbia de Nova Iorque.
A ideia de que uma dieta sem glúten é saudável é um mito, não há provas científicas que mostrem benefícios para a saúde para pessoas que não são celíacas, não têm alergia ao trigo ou sensibilidade ao glúten sem doença celíaca (esta sensibilidade afeta até 6% das pessoas e envolve sintomas gastrointestinais específicos que são induzidos pelo glúten).
Alimentos empacotados sem glúten têm muitas vezes mais gordura e açúcar
Mais ainda, garante Reilly, uma dieta sem glúten pode mesmo trazer riscos caso a pessoa não se aconselhe com um médico ou um nutricionista.
Os alimentos empacotados sem glúten têm muitas vezes mais gordura e açúcar, alguns não têm reforço de vitaminas e minerais, o que pode conduzir a obesidade e a deficiências nutricionais.
Há quem acredite que não dar produtos com glúten às crianças previne o aparecimento da doença celíaca, mas não há provas científicas que tal aconteça, afirmam os cientistas.