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Desmond Tutu critica silêncio de Suu Kyi face à perseguição de rohingyas

O arcebispo sul-africano e Nobel da Paz Desmond Tutu criticou o silêncio de Aung San Suu Kyi face à perseguição da minoria muçulmana rohingya e exortou-a a intervir "na crise que se agrava" em Myanmar.

Aung San Suu Kyi com Desmond Tutu a 26 fevereiro 2013 em Myanmar
Aung San Suu Kyi com Desmond Tutu a 26 fevereiro 2013 em Myanmar
Khin Maung Win / AP

Nas últimas duas semanas, 270.000 rohingyas fugiram da de Myanmar (antiga Birmânia) para o Bangladesh devido à violência dos combates entre o exército birmanês e a rebelião do Exército de Salvação do Estado Rohingya, segundo a ONU.

Mais de um milhão de rohingyas vivem no estado de Rakhine, noroeste de Myanmar, país que os discrimina e persegue há décadas.

O arcebispo, de 85 anos, publicou na quinta-feira nas redes sociais uma carta que enviou à primeira-ministra birmanesa, também distinguida com o Nobel da Paz, na qual diz ter-se visto obrigado a falar face ao "horror crescente" e à "limpeza étnica" em Rakhine.

Tutu dirige-se a Suu Kyi como "cara irmã" e refere a admiração que há anos sente por ela, mas insta-a a intervir.

"Estou idoso, decrépito e formalmente aposentado, mas quebro o meu voto de manter o silêncio sobre a vida pública devido a uma tristeza profunda", escreveu.

"Durante anos mantive uma fotografia sua na minha secretária para me lembrar da injustiça e do sacrifício que teve de suportar por amor e compromisso com o povo de Myanmar. A senhora simbolizava a virtude", acrescentou.

O bispo, distinguido pelo seu papel na luta contra o apartheid, prossegue dizendo que, com a entrada de Suu Kyi no governo, sentiu dissiparem-se os receios quanto àquela minoria, "mas o que alguns chamaram 'limpeza étnica' e 'genocídio lento' persistiu, e recentemente acelerou-se", escreveu.

"É incongruente um símbolo da virtude dirigir um país onde isso acontece. Se o preço político da sua ascensão ao mais alto cargo em Myanmar é o seu silêncio, esse preço é seguramente exorbitante", afirmou.

Aun San Suu Kyi tem sido criticada por defender a atuação do exército em relação aos rohingyas por múltiplas personalidades, entre as quais a também Nobel da Paz Malala Yousafzai, e há mesmo uma petição, já assinada por mais de 350 mil pessoas de todo o mundo, pedindo ao comité norueguês que lhe retire o prémio.

Na quarta-feira, a líder birmanesa defendeu-se das críticas, afirmando haver uma campanha de desinformação sobre a questão e assegurando que vai proteger os direitos de todas as pessoas.

"A solidariedade internacional com os rohingyas é o resultado de um enorme iceberg de desinformação, que visa criar problemas entre as diferentes comunidades e promover os interesses dos terroristas", disse Suu Kyi.

Lusa

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