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Funcionários da ONG Oxfam suspeitos de abusos "ameaçaram fisicamente" testemunhas 

A Oxfam revelou hoje que três dos funcionários da organização não-governamental (ONG) acusados de má conduta e abusos sexuais no Haiti ameaçaram testemunhas fisicamente durante uma investigação que decorreu em 2011. As conclusões desse relatório, agora tornadas públicas, apontavam para a necessidade de "fazer mais" para prevenir "problemas com funcionários" a trabalhar para outras organizações. Apesar do alerta, alguns indivíduos suspeitos ligados à Oxfam acabaram depois por ir trabalhar para outras ONG.

As notícias que têm sido divulgadas sobre a Oxfam e o escândalo internacional que se seguiu levaram hoje a organização a divulgar um relatório interno, elaborado há sete anos, que já dava conta de problemas e suspeitas relacionadas com comportamentos abusivos entre funcionários da ONG britânica.

A Oxfam, que tem cerca de 10 mil colaboradores em mais de 90 países, enviou para os meios de comunicação social uma versão editada de 11 páginas do referido relatório, alegando que quer ser "o mais transparente possível" e que vai enviar o documento na íntegra para o Governo do Haiti ainda hoje. Ao mesmo tempo, a ONG garante que enviará também um pedido de desculpa pelos "erros" cometidos.

De acordo com a BBC, sete funcionários deixaram a ONG em resultado do comportamento durante as missões no Haiti em 2011, refere o relatório. Três funcionários demitiram-se e um foi afastado por terem contratado prostitutas com quem tiveram relações em instalações da Oxfam.

Outros dois foram demitidos por assédio e intimidação, um deles foi também acusado de fazer download de pornografia. Um outro funcionário foi afastado por não ter conseguido proteger a sua equipa.

No relatório, divulgado hoje, pode ler-se que Roland Van Hauwermeiren, que era na altura diretor de operações no Haiti, admitiu recorrer a prostitutas" nas intalações da Oxfam, onde residia. Este depoimento feito há sete anos, quando a equipa de investigação interna o confrontou com as acusações, entra em contradição com declarações proferidas na semana passada, nas quais Van Hauwermeiren negava o pagamento por sexo com prostitutas.

Vários funcionários da organização são acusados de violações durante missões humanitárias no Sudão do Sul, de abusos sexuais na Libéria e de terem contratado prostitutas para orgias pagas com dinheiro da ONG no Chade e no Haiti, remontando alguns destes casos a 2010 e 2011.

Andres Martinez Casares/ Reuters

Responsável máximo da Oxfam considera críticas "desproporcionadas"

O executivo máximo da Oxfam, Mark Goldring, qualificou as críticas à organização não-governamental como "desproporcionadas", no seguimento do escândalo sexual envolvendo elementos da organização, numa entrevista divulgada este sábado pelo jornal The Guardian.

Goldring questionou a "intensidade" e "ferocidade" dos ataques de vários setores à organização não-governamental (ONG), envolvida numa crise profunda depois de outro jornal britânico, o The Times, denunciar o envolvimento sexual de alguns dos seus voluntários e trabalhadores com pessoas que supostamente deveriam ajudar.

Goldring reafirmou as suas desculpas e reconheceu que é preciso fazer grandes reformas na organização, ao mesmo tempo que sublinhou que o escândalo afetou donativos "vitais".

Após a controvérsia, a ministra britânica do Desenvolvimento Internacional, Penny Mordaunt, anunciou na sexta-feira que a Oxfam deixará de receber ajudas públicas até que possa "cumprir com os altos padrões que se esperam dela".