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Sem mudanças de política, Amazónia torna-se numa savana dentro de dez anos

O cientista brasileiro Carlos Nobre alertou que o mundo tem menos de uma década para parar a desflorestação da Amazónia, sob risco de a floresta dar lugar a uma imensa savana.

Amazónia, Brasil
Amazónia, Brasil
Bruno Kelly/Reuters

"A mensagem da ciência é de que temos poucos anos, menos de uma década, para ‘zerar’ a desflorestação e comprometermo-nos com grandes reflorestamentos", disse à Lusa o cientista brasileiro, destacado investigador na área de mudanças climáticas, que participa no Fórum de Florestas Tropicais que decorre esta semana em Oslo.

"A ciência diz-nos que precisamos criar um novo caminho sustentável para as florestas tropicais", afirmou o investigador, que foi um dos autores principais do Quarto Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que recebeu o Nobel da Paz em 2007.

Segundo o investigador, países com grandes porções de florestas tropicais como o Brasil precisam realizar uma "mudança radical" a fim de travar a devastação e restaurar grandes áreas degradadas.

O Fórum de Florestas em Oslo coincide com a data que marca os dez anos de criação do Fundo Amazónia, mecanismo que visa a captar doações para investimentos para recompensar projetos que têm como objetivo a redução das emissões de gases de efeito estufa provenientes da degradação florestal.

Para Carlos Nobre, o aspeto positivo destes dez anos de Fundo Amazónia foi as melhorias das condições de vida das populações que vivem na floresta.

"O Fundo criou bases que poderiam ser usadas para lançar um novo modelo de desenvolvimento da Amazónia que possa valorizar a floresta em pé numa bioeconomia. Usar a ciência e a tecnologia junto com o conhecimento tradicional e gerar cadeias produtivas", explicou.

No início do ano, Nobre publicou um editorial na revista Science Advances, junto com Thomas Lovejoy, professor da George Mason University, nos Estados Unidos, alertando que a desflorestação da Amazónia está prestes a atingir um patamar de irreversibilidade em que porções da floresta se tornariam savanas.

"Este é o ponto da curva que temos que estar preocupados. Temos que sonhar com um futuro diferente para os trópicos e encontrar formas de explorar o potencial económico da biodiversidade", argumentou Carlos Nobre.

Os primeiros modelos científicos dão conta de que esse ponto de inflexão será alcançado se a devastação da Amazónia atingir 40%. Nesse cenário, a floresta registaria menos chuvas e teria estações secas mais longas.

Contudo, nas últimas décadas, a combinação de novos fatores - como as mudanças climáticas e o uso indiscriminado do fogo por empresários agropecuários para dar espaço a pastagens - fez com que o novo ponto de inflexão ocorra quando a desflorestação passar de não mais que 25% da floresta original.

"Somos nós os responsáveis por definir qual é o caminho de desenvolvimento que queremos seguir", disse Nobre.

Lusa