Dezenas de pessoas recordaram esta quinta-feira, no centro de Berlim, Alemanha, à chuva, com cartazes, faixas e placas de rua, a ativista e vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco.
Em frente às sedes da Federação da Indústria Alemã (BDI) e da Confederação Alemã das Câmaras de Comércio e Indústria (DIHK), a organização da manifestação de hoje lembrou que a arma que matou Marielle Franco, a 14 de março de 2018, foi fabricada por uma empresa alemã, pedindo o fim do envio de armas para o Brasil.
"Ficou provado, segundo o relatório da Polícia Civil, que Marielle foi assassinada com uma arma alemã. Queremos o fim da exportação [de armas] para o Brasil, principalmente para a Polícia Militar", afirmou à Lusa o ativista Christian Russau, um dos organizadores da manifestação.
Marielle Franco, vereadora no Rio de Janeiro pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), e defensora dos direitos humanos, foi assassinada, juntamente com o seu motorista, Anderson Gomes, na noite de 14 de março de 2018, quando viajava de carro pelo centro daquela cidade, depois de participar num ato político com mulheres negras.
Na terça-feira, uma operação policial levou à detenção, no Rio de Janeiro, de dois ex-policias militares, alegados autores do crime.
"Estamos aqui para dizer que não nos esquecemos da morte de Marielle, e viemos cobrar a resposta à pergunta: 'Quem mandou matar Marielle Franco?'. Dois dias antes de completar um ano da morte dela, foram presos dois suspeitos, mas isso não é suficiente", criticou a ativista Camila de Abreu, do "Fórum Brasil Resiste - Berlin".
"A morte de Marielle importa"
Cartazes em alemão, português e inglês espalharam-se pela rua, enquanto várias mensagens foram lidas através de um megafone.
Júnia Monteiro fez questão de marcar presença no protesto, sozinha, mas com a ajuda de outras quatro mãos para segurar uma tela verde gigante, recordando Marielle: "Acho importante estar aqui e fazer número, não sabia se ia estar muita gente e queria mostrar, de alguma forma, que a morte de Marielle importa e vai continuar a importar".
Ao mesmo tempo, a portuguesa Sónia Ferreira segurava um guarda-chuva e uma placa azul com o nome da vereadora e ativista brasileira.
"Toda a gente conhece a Marielle, mesmo em Portugal, ela foi cobardemente assassinada e isso chegou ao mundo inteiro", recordou.
"Trabalho numa comunidade com muitos colegas e alunos brasileiros e estou aqui para defender os valores da democracia. Em Portugal temos sorte, temos conseguido evitar esta onda europeia de direita, somos um exemplo e espero que continuemos a ser", aponta ainda a professora de português, a viver há vários anos em Berlim.
A manifestação serviu também para criticar o governo do Presidente Jair Bolsonaro.
"Estamos contra a importância das empresas alemãs no Brasil e o apoio que eles estão a dar ao Bolsonaro. Exatamente 50 anos depois da colaboração comprovada que a Volkswagen deu à ditadura militar no Brasil, agora parece que estão a repetir os mesmos erros, apoiando um governo antidemocrático", destacou Christian Russau, que trabalha, entre outras organizações, com a KoBra - Rede Nacional de Solidariedade ao Brasil.
Flávio Cruz, que deixou o Rio de Janeiro há quase três anos para viver em Berlim, lembra que a cidade "foi a capital europeia onde Bolsonaro teve menor votação", garantindo que "há muita mobilização de brasileiros e alemães que conhecem o Brasil e estão a tentar lutar contra a situação que o país atravessa".
"É muito importante que terminemos com este ciclo de violência ideológica do Brasil e nos juntemos contra este governo tirânico do Bolsonaro", realça.
A manifestação terminou em frente à Embaixada do Brasil em Berlim.
Lusa