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França condena violência contra manifestantes no Sudão que causou 13 mortos

França apela à continuidade do diálogo entre o Conselho Militar de Transição e a oposição.

França condena violência contra manifestantes no Sudão que causou 13 mortos
Stringer .

A França condenou esta segunda-feira a repressão violenta das manifestações no Sudão, que causou pelo menos 13 mortos e apelou para que os autores da violência sejam chamados à justiça.

"A França condena a violência usada nestes últimos dias no Sudão, na repressão das manifestações", disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros francês num comunicado.

O braço de ferro entre os generais no poder no Sudão e a contestação nas ruas tomou contornos sangrentos hoje, com a dispersão violenta dos manifestantes na capital do país, Cartum, que fez pelos menos 13 mortos segundo o Comité de médicos.

O Conselho Militar tomou o poder após o derrube, pelas Forças Armadas, do Presidente, Omar al-Bashir, na sequência de uma sublevação popular inédita.

Os manifestantes reclamavam a transferência do poder aos civis.Nestes últimos dias a tensão aumentou, desde que, no dia 21 de maio, as negociações entre o Movimento de Contestação e os generais foram suspensas, sem que tivessem chegado a um acordo sobre a transição política.

"A França apela à continuidade do diálogo entre o Conselho Militar de Transição e a oposição, a fim de que alcancem um acordo inclusivo que possa rapidamente pôr em funcionamento as instituições de transição", sublinhou a porta-voz do Quai d'Orsay, Agnès von der Mühll.

"Instamos os partidos sudaneses a juntos se oporem a toda e qualquer ação violenta, que poderá pôr em causa a transição pacífica a que aspira o povo sudanês", defendeu o ministério francês.

Em janeiro, a França, membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, já tinha apelado às autoridades sudaneses para "porem fim à violência" das forças de segurança contra os manifestantes mobilizados contra o poder.

O movimento de contestação no Sudão anunciou hoje o corte de "quaisquer contactos políticos" com o Conselho Militar no poder, que acusou de ter dispersado pela força o acampamento de manifestantes em frente ao Quartel-General das Forças Armadas.

"Anunciamos o fim de quaisquer contactos políticos e das negociações com o Conselho golpista", indicou em comunicado, citado pela agência France-Presse, a Aliança para a Liberdade e Mudança (ALM), líder do movimento de contestação, apelando à "greve e desobediência civil total e indefinida a partir de hoje".

De acordo com o Comité Central dos Médicos sudaneses, uma organização próxima da contestação, a operação militar de dispersão dos manifestantes fez "pelo menos 13 mortos" e "centenas de feridos".

A organização começou por anunciar um primeiro balanço de cinco mortos e depois de nove.O Conselho Militar desmentiu entretanto ter dispersado "através da força" a manifestação pacífica que há mais de sete semanas se concentrou em frente ao QG.

"Não dispersámos o 'sit-in' pela força", afirmou um porta-voz do Conselho, o general Shamseddin Kabbashi, à estação de televisão Sky News Arabia, baseada nos Emirados Árabes Unidos.

"As tendas estão lá e os jovens podem circular livremente", acrescentou. No seu comunicado, a ALM atribuiu "a responsabilidade total deste crime" aos militares, apelando à "queda do regime".

Em resposta à operação militar, os manifestantes, que há quase dois meses reclamam a passagem do poder para os civis, incendiaram pneus e ergueram pequenas barricadas com tijolos nas ruas de acesso ao local do "sit-in" e noutros eixos da capital.

De acordo com o Comité Central dos Médicos sudaneses, a fonte que está a dar conta do número de mortos até agora, as forças de segurança chegaram a disparar dentro do hospital Charq al Nil, em Cartum, e impediram o acesso a um segundo estabelecimento hospitalar na capital sudanesa, o Royal Care.

As relações entre os dois campos foram ficando cada vez mais tensas após o fracasso das negociações no passado dia 20 de maio, que foi seguido de várias ameaças por parte do Conselho Militar, que dirige o país desde o passado 11 de abril, data da destituição sob a pressão popular do Presidente Omar al-Bashir.

Lusa