A Casa Branca tentou restringir informações sobre o telefonema entre o Presidente dos EUA e o homólogo ucraniano, Vladimir Zelensky, que está na base de um anunciado processo de destituição de Donald Trump, segundo um relatório divulgado pelo Congresso.
O relatório conhecido esta quinta-feira relata as preocupações de um denunciante não identificado que entregou aos serviços de informações dados incriminatórios do comportamento de Donald Trump, incluindo a acusação de ter feito um telefonema para o Presidente da Ucrânia, em julho passado, pressionando-o a investigar Hunter Biden, filho de Joe Biden, vice-presidente no mandato do ex-presidente norte-americano, Barack Obama, e atual candidato à Casa Branca pelo Partido Democrata, por suspeita de irregularidades na sua ligação com uma empresa ucraniana.
Esta suspeita levou a maioria Democrata no Congresso a anunciar, terça-feira, um inquérito para destituir Donald Trump, por abuso de poder presidencial, ao pressionar um líder estrangeiro a investigar um adversário político.
No relatório, o denunciante diz que "os funcionários da Casa Branca intervieram para bloquear todas os registos do telefonema, principalmente a transcrição oficial, palavra por palavra, que foi produzida, como habitualmente, pela Sala de Situação da Casa Branca".
Segundo o mesmo denunciante, "esse conjunto de ações foi prova de que os funcionários da Casa Branca entenderam a gravidade do que aconteceu na chamada telefónica".
Esta versão do relatório surgiu hoje, horas antes de o diretor interino dos serviços de informação, Joseph Maguire, ir prestar declarações ao Congresso, onde será questionado sobre o teor da denúncia e ação dos serviços que tutela perante as acusações decorrentes do telefonema.
Na quarta-feira, a Casa Branca tinha divulgado uma transcrição do telefonema, com base no relatório do denunciante que, por sua vez, apenas teve acesso a relatos de funcionários sobre a chamada telefónica entre Trump e Zelensky.
Agora, o relatório divulgado pelo Congresso mostra que o denunciante também acusa a Casa Branca de tentar "abafar" o caso do telefonema com o Presidente da Ucrânia.
"Eles (os funcionários) disseram-me que já havia uma discussão em andamento com os advogados da Casa Branca sobre como tratar o telefonema, para a eventualidade de terem testemunhado uma situação em que o Presidente abusava do seu cargo para obter ganhos pessoais", escreveu o denunciante no relatório que apresentou aos serviços de informação e que agora foi conhecido.
De acordo com o documento, Trump voltaria a falar telefonicamente com Zelensky apenas na eventualidade de o Presidente da Ucrânia aceitar mandar investigar a ação do filho de Joe Biden, hipótese que, segundo o denunciante, "perturbou muito os funcionários da Casa Branca".
Esta quinta-feira, perante estes novos factos, a Casa Branca alega que esta denúncia "não mostra nada de impróprio".
A assessora de imprensa Stephanie Grisham disse aos jornalistas que "não passa de uma coleção de relatos de eventos, em terceira mão, e recortes de imprensa emendados".
Grisham acrescentou que a prova de que Donald Trump "nada tem a esconder" está em que ele próprio autorizou a divulgação de uma transcrição do telefonema com o homólogo ucraniano.
Nessa transcrição, Donald Trump aparece a levantar alegações infundadas de que Joe Biden teria tentado interferir na investigação de um procurador da Ucrânia sobre a atuação de Hunter Biden enquanto administrador de uma empresa ucraniana, sugerindo que o caso fosse esclarecido pelo Governo ucraniano.
"Há muita conversa sobre o filho de Biden, dizendo que Biden (pai) suspendeu a acusação e muitas pessoas gostariam de saber mais sobre isso", disse Trump a Zelensky, de acordo com a transcrição do telefonema.
"Gostaria nos fizesse um favor porque o nosso país passou por muita coisa e a Ucrânia sabe muito sobre isso", pediu o Presidente norte-americano ao homólogo ucraniano, numa outra parte da transcrição.
Trump referia-se às suspeitas de que o então vice-presidente, Joe Biden, pressionou o Governo ucraniano para demitir o procurador-geral, que era acusado pelo Ocidente de ser muito moderado face a casos de corrupção.
Perante esta primeira versão, dirigentes do Partido Democrata mostraram-se chocados e impeliram a líder da Câmara dos Representantes a anunciar um inquérito para a destituição de Donald Trump.
O Presidente reagiu dizendo que tudo não passa de uma "caça às bruxas", que não disse nada de errado no telefonema e que os adversários querem usar este episódio para prejudicar a sua campanha de reeleição, em 2020.
Esta quinta-feira, a Casa Branca reiterou esta posição, dizendo que "continuará a combater a histeria e as narrativas falsas que estão a ser vendidas pelos Democratas, através dos media tradicionais".
Lusa