Última atualização às 17:43
Os talibãs já entraram em Cabul, apesar das garantias iniciais de que só avançariam para o interior da capital afegã após uma transição pacífica de poder, avançou a agência EFE que testemunhou a presença dos insurgentes na cidade. O Papa Francisco pede diálogo e apela ao cessar-fogo.
Os talibãs divulgaram, entretanto, que entraram na capital afegã para controlar possíveis situações de roubo e de pilhagem após o recuo e a fuga das forças de segurança governamentais afegãs.
"Para evitar atos de pilhagem em Cabul e para evitar que os oportunistas prejudiquem o povo, o Emirado Islâmico ordenou às suas forças que entrassem nas áreas de Cabul de onde o inimigo saiu", referiram os insurgentes num comunicado.
Na mesma nota informativa, os talibãs insistiram que a população "não deve temer os 'mujahedin'" e garantiram que os combatentes vão entrar na cidade "de forma calma" e não pretendem causar danos.
"Os militares e os funcionários civis do Governo devem confiar que ninguém lhes fará mal. Nenhum combatente está autorizado a entrar em casas ou a torturar ou a perturbar", asseguraram os talibãs.
No seguimento desta ordem, os combatentes insurgentes começaram a patrulhar as ruas de Cabul.
Segundo testemunhou a agência espanhola EFE, as pessoas que se cruzam com os combatentes nas ruas da capital afegã são abordadas e identificadas pelos insurgentes, sendo depois autorizadas a prosseguir o seu caminho.
"Queremos uma transferência pacífica"
O grupo quer assumir o poder "nos próximos dias" através de uma transição "pacífica", disse um porta-voz dos talibãs à BBC, enquanto as suas tropas cercavam a capital.
"Nos próximos dias queremos uma transferência pacífica" de poder, disse Suhail Shaheen, porta-voz de um grupo envolvido nas negociações, baseado no Qatar.
Suhail Shaheen delineou os planos políticos dos talibãs para um regresso do movimento islâmico radical ao poder, 20 anos após ter sido expulso pelas forças internacionais na sequência dos ataques de 11 de Setembro.
"Queremos um governo islâmico inclusivo, o que significa que todos os afegãos estarão representados neste governo", assegurou Suhail Shaheen, "falaremos disso no futuro, quando a transição pacífica tiver acontecido.
O porta-voz do grupo também assegurou que as embaixadas internacionais e os seus funcionários não serão alvo de ataques e que devem permanecer no país.
"Não há risco para os diplomatas, organizações humanitárias, ninguém. Todos eles devem continuar a trabalhar como têm feito até agora. Nenhum mal lhes acontecerá, devem ficar", insistiu.
Há alguns dias, os especialistas ocidentais indicavam que os talibã demorariam pelo menos um mês a colocar Cabul sob pressão. Uma previsão que falhou completamente. A ofensiva à capital ocorre ao fim de apenas 10 dias, depois de o grupo tomar controlo da maior parte do país.
Descartando receios de que o país regressasse aos tempos do início do domínio talibã, com a aplicação rigorosa das regras islâmicas, Shaheen disse que os talibãs querem agora abrir "um novo capítulo" de tolerância.
"Queremos trabalhar com todos os afegãos, queremos abrir um novo capítulo de paz, tolerância, com coexistência pacífica e unidade nacional para o país e o povo afegão", afirmou.

Presidente do Afeganistão abandona o país
O presidente Ashraf Ghani abandonou o Afeganistão, segundo informações avançadas pelo ex vice-presidente do país Abdullah Abdullah e por dois responsáveis das autoridades afegãs.
A AFP está a noticiar que Ghani saiu do país citando o antigo vice-presidente Abdullah Abdullah, tendo esta informação sido corroborada à Associated Press (AP) por dois responsáveis afegãos, um deles membro do gabinete do ex-presidente Hamid Karzai e o outro um assessor do conselho de segurança afegão.
Estes dois responsáveis falaram sob anonimato, pois não estavam autorizados a fornecer dados à comunicação social.
Lojas e bancos encerrados, trânsito paralisado em Cabul
O gabinete do Palácio Presidencial afegão confirmou, através do Twitter, que "em várias áreas remotas de Cabul foram ouvidos disparos".
"As forças de segurança do país, em coordenação com os parceiros internacionais, controlam a situação de segurança em Cabul", referiu a Presidência afegã.
A NATO já disse também que o contingente norte-americano foi levado para um local secreto na capital.
A situação é de pânico em Cabul, com as autoridades afegãs a pedirem a todos os funcionários que abandonem os seus postos de trabalho e vão para casa, enquanto lojas e bancos estão encerrados e o trânsito paralisado por fortes engarrafamentos.
Trabalhadores em pânico abandonaram os gabinetes governamentais e helicópteros começaram a aterrar na Embaixada dos Estados Unidos, à medida que os militantes apertavam mais o seu controlo sobre o país.
Os diplomatas norte-americanos estão a destruir documentos confidenciais, com urgência, antes de seguirem para fora da capital afegã em helicópteros.
Papa apela ao diálogo e cessar-fogo
O papa Francisco mostrou-se preocupado com a situação no Afeganistão, após a chegada dos talibãs a Cabul, apelando ao cessar-fogo e ao início do diálogo.
"Associo-me à preocupação unânime sobre a situação no Afeganistão. Peço que orem a Deus para que o barulho das armas cesse e para que possam ser encontradas soluções numa mesa de diálogo", afirmou o chefe da igreja católica, no final da oração do Angelus, na Praça de São Pedro.
Conforme apontou Francisco, "só assim, a população martirizada do país - homens, mulheres, crianças e idosos -, poderão regressar às suas casas para viver em paz e segurança, no pleno respeito mútuo".
Dezenas de soldados afegãos fogem para o Uzbequistão
Dezenas de soldados afegãos entraram no Uzbequistão para fugir do ataque dos talibãs, enquanto vários países continuam a preparar a retirada de concidadãos e afegãos em perigo de vida e são fechadas fronteiras.
O Ministério das Relações Exteriores do Uzbequistão anunciou, em comunicado, que as tropas uzbeques prenderam 84 soldados afegãos na fronteira entre os dois países, estando a decorrer conversações com as autoridades afegãs para organizar o seu regresso ao país.
Entre o grupo estão três soldados feridos que precisavam de ajuda médica, acrescentou o ministério, explicando que a todos os soldados foi oferecida comida, acomodação temporária e cuidados médicos.
Ministro do Interior promete transição pacífica de poder
O ministro do Interior afegão, Abdul Sattar Mirzakwal, disse que uma "transferência pacífica de poder" para um governo de transição terá lugar no Afeganistão, onde os talibãs estão prestes a assumir o controlo total do país.
"Os afegãos não devem preocupar-se (...) Não haverá nenhum ataque à cidade [de Cabul]. E haverá uma transferência pacífica de poder para um governo de transição", disse Mirzakwal numa mensagem de vídeo.

Rússia quer reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU
A Rússia está a trabalhar com outros países para realizar, com urgência, uma reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Afeganistão, após a chegada dos talibãs à capital afegã, avançou um funcionário do Governo.
"Estamos a trabalhar nisso", adiantou o funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Zamir Kabulov, às agências russas, notando que a reunião será realizada em breve.
A Rússia é um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, a par dos Estados Unidos, Reino Unido, França e China.
EUA respondem de forma rápida e forte, se grupo atacar norte-americanos
Nas ultimas horas, através de um comunicado da Casa Branca, Joe Biden já tinha avisado os líderes dos talibã que os Estados Unidos vão responder de forma rápida e forte, se o grupo atacar a missão ou o pessoal norte-americano.
Cabul é a única grande cidade ainda controlada pelo governo central. No sábado à noite, os talibãs tinham tomado Mazar-i-Sharif, a quarta maior cidade afegã e o principal centro urbano do norte do país.
Os talibãs lançaram a ofensiva em maio com o início da retirada final das tropas norte-americanas e estrangeiras, que deve estar concluída até 31 de agosto.