Centenas de pessoas reuniram-se hoje próximo do consulado italiano em Barcelona, guardado por um forte dispositivo da polícia, em protesto contra a prisão na Sardenha do ex-presidente do governo catalão Carles Puigdemont.
A reunião, convocada pela Assembleia Nacional Catalã (ANC) e à qual aderiram o Òmnium Cultural e outras entidades, contou com a presença da presidente da ANC, Laura Borràs, do vice-presidente do Governo catalão, Jordi Puigneró, e da porta-voz da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), Marta Vilalta, entre outras posições de formações políticas.
O secretário-geral do Juntos pela Catalunha (JxCat) e ex-presidente do ANC, Jordi Sànchez, e o presidente do Òmnium Cultural, Jordi Cuixart, também participaram no protesto, ambos recentemente perdoados das sentenças de prisão a que o Supremo Tribunal os condenou por um crime de sedição, por seu papel na tentativa de independência da Catalunha.
A polícia catalã [Mossos d'Esquadra] implantou um extenso dispositivo para proteger o prédio do consulado italiano, impedindo os manifestantes de se aproximar do prédio. Assim, os manifestantes acabaram por se deslocar para algumas dezenas de metros em direção à avenida Diagonal, cortando o tráfego.
Entre bandeiras pró-independência, os manifestantes gritam palavras de ordem em apoio a Carles Puigdemont e para exigir que as autoridades italianas libertassem o ex-presidente, que nas próximas horas deverá ir à disposição da Justiça italiana.
Hoje, também várias dezenas de independentistas da Sardenha reuniram-se em frente ao Tribunal de Sassari, na ilha italiana, para protestar contra a prisão de Carles Puigdemont e para pedir ao Parlamento Europeu que restaure a imunidade aos eurodeputados catalães.
Audiência na Sardenha ainda sem data marcada
O porta-voz do grupo Independência da República da Sardenha (IRS), Simone Maulu, explicou à EFE que decidiram concentrar-se no tribunal, onde será realizada nas próximas horas a audiência para validar a detenção, em solidariedade aos independentistas catalães, com quem "sempre tiveram contactos" e até "participaram como voluntários durante o referendo em 2017.
Em 25 de março de 2018, a prisão de Puigdemont na Alemanha deu origem a uma grande manifestação na representação alemã em Barcelona - um edifício que esta sexta-feira apareceu protegido por um grande dispositivo policial -, o que acabou gerando incidentes e acusações contra os Mossos d'Esquadra.
O eurodeputado independentista e ex-presidente catalão Carles Puigdemont aguarda hoje que a justiça italiana decida se o vai extraditar para Espanha, depois de ter sido detido na noite de quinta-feira na Sardenha (Itália).
Contactado esta manhã pela agência francesa AFP, o seu advogado, Gonzalo Boye, disse que Puigdemont tinha passado a noite na prisão de Sassari, onde um juiz deverá ouvi-lo.
Mas "ainda não sabemos" se a audiência perante o tribunal de recurso de Sassari "terá lugar hoje ou amanhã", sábado, acrescentou, embora o chefe de gabinete de Puigdemont, Josep Lluis Alay, tivesse dito na quinta-feira à noite que a audiência teria lugar na sexta-feira.
Mandado de captura europeu emitido pelo Supremo Tribunal espanhol
Carles Puigdemont, 58 anos, foi preso na noite de quinta-feira à sua chegada a Alghero, uma cidade da Sardenha que culturalmente está próximo da Catalunha, onde deveria participar num festival cultural e encontrar-se com representantes eleitos da ilha italiana.
O novo presidente regional da Catalunha, Pere Aragonès, também um separatista, mas de tendência mais moderada que Puigdemont, condenou, na rede social Twitter, "a perseguição e esta repressão judicial".
"Já chega. A amnistia é a única forma. A autodeterminação é a única solução. Ao teu lado, Carles", disse Aragonès.
Governo espanhol considera que a detenção obedece a um processo judicial em curso
Por seu lado, o Governo espanhol considera que a detenção do antigo presidente da Generalitat (governo regional catalão) obedece a um processo judicial em curso, e como qualquer outro cidadão europeu, deve submeter-se à ação da justiça.
O executivo espanhol publicou uma declaração de madrugada, na qual sublinha que a detenção é uma consequência do processo judicial aberto, "que se aplica a qualquer cidadão da União Europeia que deve responder pelos seus atos perante os tribunais".
Madrid manifestou o seu respeito pelas decisões das autoridades e tribunais italianos e insistiu que "Puigdemont deve submeter-se à ação da justiça exatamente da mesma forma que qualquer outro cidadão".
Tribunal de Justiça da UE retirou imunidade parlamentar a Carles Puigdemont
Membro do Parlamento Europeu desde 2019, o ativista pró-independência recebeu, durante algum tempo, a imunidade parlamentar, mas o Parlamento Europeu levantou esta imunidade a 09 de março último, por uma grande maioria, medida que foi confirmada a 30 de julho pelo Tribunal da União Europeia.
A decisão do Parlamento Europeu foi objeto de recurso e espera-se uma decisão final pelo tribunal da UE "numa data posterior".
O advogado de Puigdemont defende que a decisão do Parlamento Europeu está "suspensa" e que o seu cliente deve continuar a gozar da sua imunidade.
Alguns observadores receiam que esta detenção de Carles Puigdemont aumente o risco de uma nova crise entre Madrid e o movimento independentista na região autónoma, numa altura de relativo desanuviamento entre as duas partes.