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Eleições no Brasil 2022: Sergio Moro pode vir a ser candidato à Presidência

Antigo ministro da Justiça de Bolsonaro desafia atual Presidente brasileiro e Lula da Silva, mas ainda não confirmou a candidatura.

Eleições no Brasil 2022: Sergio Moro pode vir a ser candidato à Presidência
ADRIANO MACHADO

Sergio Moro filiou-se esta quarta-feira no partido Podemos, numa cerimónia em Brasília, na qual discursou como pretendente à Presidência, embora sem confirmar a candidatura, desafiando o atual Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e o ex-presidente Lula da Silva.

"Há outros nomes" para a chamada "terceira via", mas "se for necessário que eu assuma esse projeto, saiba que estou disponível", declarou Moro, diante de centenas de pessoas que gritavam "Brasil defende o Presidente Moro" num evento organizado para a sua filiação no partido de direita Podemos.

Moro era ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, mas renunciou ao cargo em abril de 2020 insinuando ser contra uma suposta interferência do Presidente brasileiro na Polícia Federal.

Antes disto, havia atuado como juiz da polémica operação Lava Jato, que se espalhou por uma dezena de países e colocou Lula da Silva na prisão por 580 dias por suposta corrupção.

A filiação de Moro ao Podemos foi quase um comício de campanha e reuniu militantes de outras forças conservadoras contrárias a Bolsonaro, que pediam uma "terceira via" nas eleições de 2022.

Em discurso de quase uma hora, Sergio Moro defendeu uma economia liberal com preocupação social e algumas propostas concretas, como a criação de um tribunal especial anticorrupção e o fim da reeleição presidencial e dos privilégios judiciais para políticos.

Moro também apareceu junto do slogan: "Por um Brasil justo para todos".

A presidente do Podemos, Renata Abreu, saudou Moro como se tivesse entrado agora para a política, embora o ex-juiz tenha sido ministro da Justiça no Governo Bolsonaro, considerando que chega "na hora certa" para quebrar a polarização que as pesquisas preveem entre Bolsonaro e Lula da Silva.

"O Brasil está polarizado. Famílias e amigos brigam por ideologias, por populismos baratos dos dois lados e o país precisa de um líder capaz de nos unir a todos", declarou Renata Abreu.

Na rede social Twitter, Moro divulgou uma série de mensagens com parte de seu discurso durante o ato de filiação e também comentou que "o Brasil não precisa de líderes que tenham voz bonita", acrescentando: "O Brasil precisa de líderes que ouçam e atendam a voz do povo brasileiro".

Nesta mensagem, o ex-juiz fez uma alusão a comentários de críticos sobre a sua dicção, nomeadamente aludida de forma negativa por apoiantes de Bolsonaro e de Lula da Silva.

LULA DA SILVA FAVORITO NAS PRESIDENCIAIS DE 2022

Pelas sondagens recentes, Lula da Silva é um claro favorito nas presidenciais de 2022, com intenção de votar para perto de 50%, Bolsonaro não passa de 30%, e Moro começa a surgir entre uma dezena de possíveis candidatos da chamada "terceira via".

Entre os que compareceram à sua filiação estava Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde do Governo Bolsonaro, que também é considerado um possível candidato da chamada "terceira via".

Moro saudou a presença de Mandetta, pediu união com aqueles que "não querem populismo de extrema-direita ou esquerda" e a "construção de um projeto para o país, não para os partidos".

Desse modo, parecia admitir a pouca força do Podemos, fundado em 2018, que tem 10 dos 513 deputados e igual número entre os 81 senadores, e que nas eleições municipais de 2020 venceu em 99 das 5.570 cidades no país.

Jair Bolsonaro, que Moro denunciou ao Ministério Público por suposta interferência ilegal na Polícia Federal e também acusou de ter abandonado o combate à corrupção, foi um dos primeiros a criticar a provável candidatura do ex-ministro.

"Agora se entende melhor as coisas. Ele sempre teve um propósito político. Nada contra, mas o fez de forma camuflada", declarou Bolsonaro sobre Moro.

Lula da Silva, que sempre sustentou que Moro liderou uma perseguição contra si para impedir a sua candidatura nas eleições de 2018, declarou que a entrada do ex-juiz na política mostra que tinha razão.

"Já ficou claro que fui vítima da maior mentira judicial que já se viu na história do Brasil", disse o ex-presidente, que destacou que isso foi comprovado quando o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou os processos em que Moro o condenou por conflitos de jurisdição e também considerou que o ex-juiz foi parcial nos processos contra Lula da Silva.

Os apetites políticos de Moro têm causado críticas de membros do próprio STF.

"A seletividade, os métodos de investigações e vazamentos: [da operação Lava Jato] tudo convergia para um propósito claro - e político, como hoje se revela. Demonizou-se o poder para apoderar-se dele", escreveu Gilmar Mendes na rede social quando o Podemos anunciou a filiação de Moro.

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