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Lula da Silva torna-se no primeiro estrangeiro a discursar na argentina Praça de Maio

A Praça de Maio é o ícone das grandes manifestações políticas e populares dos argentinos.

Lula da Silva torna-se no primeiro estrangeiro a discursar na argentina Praça de Maio
Anadolu Agency

O ex-presidente brasileiro Lula da Silva será o primeiro estrangeiro a discursar, e em português, na histórica Praça de Maio, o ícone das grandes manifestações políticas e populares dos argentinos.

"Nunca antes na história da Argentina, um líder estrangeiro discursou aos argentinos, muito menos teve um papel de protagonista. Lula será aclamado pela multidão. Esta será a primeira vez que um líder estrangeiro fala ao povo argentino na Praça", ressalta à Lusa o cientista político argentino, Sergio Berensztein.

Luiz Inácio Lula da Silva será um exemplo fora da história desta praça, anterior à independência argentina iniciada em 1810, a partir da Revolução de Maio que inspirou o nome do principal ponto de referência da vida política do país.

O discurso de Lula da Silva, previsto para as 19:30 locais (22:30 em Lisboa), será o ponto culminante do Dia da Democracia e dos Direitos Humanos, em comemoração dos 38 anos da recuperação da democracia na Argentina e do Dia Internacional dos Direitos Humanos.

Em 2003, Fidel Castro discursou a uma multidão em frente à Faculdade de Direito em Buenos Aires.

Em 2006, Fidel também discursou em Córdoba, segunda principal cidade argentina.

O venezuelano Hugo Chávez foi protagonista em Mar del Plata em 2005. Porém, nenhum esteve no principal palco popular do país.

"Em 1973, na posse do então Presidente Héctor Cámpora, os Presidentes do Chile, Salvador Allende, e de Cuba, Osvaldo Dorticós, foram aclamados na Praça de Maio como representantes da esquerda latino-americana, mas não discursaram. Apenas subiram ao palco", recorda Berensztein.

"A Praça de Maio é um teatro muito especial para a política argentina e pode ser o palanque para um discurso de Lula com projeção internacional", indica o politólogo argentino Lucas Romero, que vê no brasileiro o representante de uma epopeia em torno da qual se juntam os líderes da esquerda latino-americana.

Segundo Romero, "Lula tem um valor simbólico muito especial para a realidade política argentina e o valor da sua figura é superlativo em relação aos demais líderes".

O ex-presidente brasileiro, apontado como provável candidato nas eleições presidenciais de outubro de 2022, terá a chance de reforçar a sua imagem internacional.

"Vejo o discurso de Lula mais ecuménico do que de campanha eleitoral. Lula deve aproveitar para se mostrar como um líder mundial", prevê Berensztein.

Além de discursar na Praça de Maio, Lula da Silva também será o primeiro estrangeiro a receber uma distinção do Estado argentino pela sua luta a favor dos direitos humanos.

O prémio Azucena Villaflor será entregue hoje a referências argentinas dos direitos humanos.

O nome é uma homenagem a uma das fundadoras da organização social Mães da Praça de Maio.

Villaflor foi morta pela ditadura militar argentina (1976-1983) por fazer muitas perguntas sobre o desaparecimento do seu filho, assassinado pelo regime.

A distinção de Lula da Silva é uma forma de o chamado "kirchnerismo", ala mais radical do "peronismo", liderado hoje pela vice-presidente Cristina Kirchner, reforçar a identidade da fação, depois da dura derrota nas eleições legislativas de 14 de novembro passado.

"Para o "kirchnerismo", alimentar essa identidade construída em tono dos direitos humanos requer capital simbólico e Lula representa isso. Ele rememora aquelas lideranças de centro-esquerda que dominaram a região entre 2005 e 2015", avalia Lucas Romero.

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