O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, defendeu esta terça-feira que o mundo precisa de "arsenais diplomáticos" para garantir a paz e que a Europa se deve reformar para defender "sem tréguas" todos os direitos e valores fundamentais.
"Nunca, desde a criação da ONU e da União Europeia estes valores se viram tão ameaçados. Por isso, devemos levantar a voz e reafirmar esses valores. E, sobretudo, precisamos de paz", disse António Guterres, em Cuacos de Yuste, Espanha, onde recebeu o Prémio Europeu Carlos V das mãos do Rei de Espanha, Felipe VI.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa, estiveram presentes na cerimónia, no primeiro encontro entre ambos após Costa ter recusado demitir o ministro João Galamba.
Guterres mostrou-se emocionado com a distinção, que recebeu “também em nome das Nações Unidas”, lamentando que há hoje violência "em demasiados cantos do planeta", não só em guerras como a da Ucrânia, mas também noutros países mais “longe de focos” mediáticos.
"A paz nunca se deve subestimar nem dar-se por garantida. Temos de trabalhar por e para ela, todos os dias, sem descanso. Num mundo que se está a despedaçar, devemos sanar as divisões, prevenir as escaladas, ouvir as queixas. Em vez de balas, precisamos de arsenais diplomáticos", defendeu.
Para Guterres, "só uma Europa unida consegue enfrentar os enormes desafios do presente e do futuro" e "o mundo precisa de uma Europa forte, que olhe para fora, não de uma Europa fechada em si mesma".
"Não esqueçamos que a Europa é fronteira e não ilha. Assim, precisamos de uma Europa que defenda sem tréguas os valores universais e os direitos fundamentais para todos, que contribua plenamente para um mundo multipolar, com relações internacionais baseadas na justiça e ajuda aos mais vulneráveis", alertou.
O antigo primeiro-ministro português lembrou que a União Europeia tem sido "símbolo da solidariedade e da cooperação internacionais" e considerou que tem hoje "a responsabilidade histórica de reafirmar o significado do multilateralismo e trabalhar em solidariedade com aqueles que aspiram a perseguir o mesmo desenvolvimento e bem-estar".