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Entrevista SIC Notícias

Protestos em França têm origem no "divórcio entre várias partes da sociedade"

O Governo francês está em controlo de danos, após o Presidente Macron não ter conseguido lidar com as disparidades sociais em França. Hermano Sanches Ruivo, vereador de Paris, analisa a situação atual do país e o potencial acalmar dos protestos nos próximos dias.

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A noite deste domingo foi mais calma em França. No entanto, Macron continua a vigiar a situação e continua a reunir-se com as altas figuras do Governo e das instituições da república francesa para “ter uma base sólida de ação” de acordo com Hermano Sanches Ruivo.

Emmanuel Macron vai receber os presidentes do Senado e da Assembleia Nacional esta segunda-feira. Na noite de domingo, o Presidente francês esteve reunido de emergência com a primeira-ministra, Élisabeth Borne, e sete ministros no Palácio do Eliseu.

O vereador da Câmara de Paris considera que o que o Presidente francês, Emmanuel Macron, necessita agora é de um apoio institucional que não vacile.

“[As reuniões] são para encontrar um apoio mais alargado com o Senado e Assembleia Nacional para que haja uma resposta que seja da totalidade das instituições para evitar uma fratura na parte política. O Presidente tem o interesse de ter uma base sólida, até porque em nenhuma tem maioria”, explica Hermano Sanches Ruivo.

Da mesma forma, a primeira-ministra reuniu-se com os líderes dos partidos, tendo em conta que “a extrema-direita e a extrema esquerda têm tirado algum proveito da situação”, de acordo com Sanches Ruivo.

“[A primeira-ministra precisa de] reafirmar qual a posição da República e de alguma forma obrigar os que não teriam essa posição a dizê-lo publicamente. Sentimos que há vontade de ter uma base mais alargada possível”, expõe o vereador.

Para Hermano Sanches Ruivo, o problema entre a polícia e estas camadas jovens não é necessariamente a emigração, mas o esquecimento político de certos grupos que necessitam de mais apoio.

"A fratura é consequente, não tem a ver com a emigração, tem a ver que nas cidades existe uma parte da população que está em dificuldades. O equilíbrio que devemos procurar passa por uma visão mais adequada da situação com tomada de decisões, estamos muito longe da meta, o divórcio que existe entre várias partes da sociedade é a principal pergunta que está em cima da mesa", relata o vereador.

Este problema não tem sido resolvido por Macron que é visto como o Presidente das elites e, tendo isso em conta, Sanches Ruivo admite que ainda existe muito caminho por trilhar a respeito das disparidades sociais.

"[Macron] falhou alguns pontos, inclusive sobre a tomada de consciência da realidade dos mais carenciados. França tem muitas origens diferentes, mas a maioria dos jovens têm nacionalidade francesa, por isso é uma situação de meios, de vida de dificuldade, de acederem a um emprego e a formação", conclui.

O Governo francês voltou a mobilizar 45.000 polícias, este domingo, para lidar com os protestos que decorrem no país, após as autoridades terem morto um jovem nos arredores de Paris.

O ministro do Interior pediu "firmeza" e que todas as detenções sejam efetuadas "o mais rapidamente possível", divulgou este domingo a sua equipa, citada pela Agência France Presse (AFP).

Nahel M., de 17 anos, foi morto pela polícia na sequência de uma operação stop em Nanterre.