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Inundações em Saragoça: "Choveu um mês em três ou quatro horas"

As chuvas que caíram sobre a cidade de Saragoça, em Espanha, causaram grandes inundações. O climatologista Mário Marques explicou que estas situações estão também relacionadas com a ação antrópica.

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A cidade de Saragoça, em Espanha, foi atingida por chuvas fortes, que provocaram inundações. Vários carros ficaram submersos e as autoridades tiveram de resgatar condutores. No entanto, não há registo de feridos até ao momento. O climatologista Mário Marques alerta que estes fenómenos serão cada vez mais frequentes e intensos.

As chuvas começaram perto das 18:00 (hora local, 17:00 em Lisboa), e duraram cerca de 20 minutos. Segundo Mário Marques, isto aconteceu devido ao encontro de duas massas de ar.

“Temos tido um refrescar. Uma intrusão de um ar mais fresco e mais húmido do atlântico, por sua vez, o sudeste, este e nordeste de Espanha está a ser bafejado por ar mais quente do mediterrâneo e do norte de África, esse encontro das duas massas de ar deu-se na metade norte da Península Ibérica, sobretudo, na parte nordeste. Existiu uma acumulação de energia e de humidade nas várias camadas da atmosfera e essas formações propagaram-se e cresceram praticamente com a sua base no mesmo local e expandiram-se para outras camadas da atmosfera longitudinalmente e debitaram grandes quantidade de precipitação. Em alguns casos choveu, praticamente, um mês em três ou quatro horas." explica.

O climatologista sublinha que apesar de a precipitação ter sido intensa, a questão do ordenamento territorial também influencia nas inundações.

“Existe também um escorrimento superficial tudo para bacias, áreas de inundação ou zonas planas onde, normalmente, estão localizadas áreas industriais. Isto também tem a ver com a ação antrópica, choveu muito mas também a nível de ordenamento também temos de questionar essas situações."

Mário Marques explica que este tipo de situações têm um padrão que pode ser analisado

“Essas precipitações são muito localizadas, o padrão está lá. E este padrão pode e deve ser analisado com 24 a 48 horas de antecedência, isto é, existirá uma probabilidade para a formação de células convectivas e com precipitações intensas e muito localizadas. E esses dois fatores já estavam em cima da mesa e poderiam dar azo a que isto acontecesse.”

O especialista admite que a situação irá provavelmente abrandar, mas que não deve ser descartada a possibilidade de novas precipitações durante o dia de hoje.

“Obviamente que nós teremos agora aqui um suavizar da situação, uma vez que, esta depressão em altitude, esta instabilidade tende a mover-se um pouco mais para nordeste. Também para o sudoeste de França e toda a cordilheira dos Pirenéus. Mas não descartar mesmo durante o dia de hoje que também existam situações muito semelhantes em termos de desenvolvimento vertical e formações convectivas, como ocorrência de aguaceiros muito fortes e intensos.”

Apesar destas situações serem cada vez mais frequentes, o climatologista relembra que “temos que não só mitigar um pouco a nossa presença no território mas, sobretudo, ajudar a que esses impactos sejam minimizados aquando da ocorrência.”

Para Mário Marques a Europa ainda está muito atrasada em relação ao uso de tecnologias que ajudam a prever estas situações.

"Hoje temos tecnologias à nossa disposição. Como fazem os Estado Unidos da América há mais de 30 anos, ao qual a Europa tem sido muito adormecida ou muito estática, nestes early warning system - sistemas de aviso prévio. E é ai que temos de mitigar um pouco e adaptar-nos e usar a tecnologia que neste momento já está mais presente e não expor a população."

Relembrando que este tipo de fenómenos irá continuar a acontecer, Mário marques refere que temos de nos adaptar aos meios que temos disponíveis.

“Até porque isto vai continuar a ocorrer e nós vamos continuar a construir, onde muitas vezes não devemos, e vamos ocupar território. E claro, as áreas de inundação e drenagem natural, vão ser utilizadas quando existe água precipitável que cai nestes quantidades, por isso é que temos de nos adaptar e usar aquilo que, neste momento, temos à mão. E os meios que temos já são muito melhores do que aquilo que tínhamos há uns 10 ou 15 anos atrás.”