1. Porque é que este ataque é diferente de tudo o que se passou antes?
Israel nasceu numa guerra em 1948 e tem sido um estado em guerra: em 1967, a Guerra dos Seis Dias, contra Síria, Egipto e Jordânia; em 1973, a do Yom Kippur com Egipto e Síria; em 1978, 1996 e 2006 nas invasões do Líbano; desde 2008 em sucessivas levas na Faixa de Gaza, desde que o Hamas controla o território. Mas nunca um ataque com este grau de ousadia, mortos e reféns tinha existido: um dos mais sofisticados e poderosos exércitos do mundo foi apanhado de surpresa por uma milícia de um território minúsculo.

2. O ataque de sábado é uma humilhação política e militar para Israel?
Sim. Tel Aviv dispõe de um dos melhores serviços de informações militares do mundo e historicamente tem conseguido infiltrar os movimentos que considera ameaçar a sua integridade territorial. Apesar do Hamas estar há semanas a fazer “exercícios militares”, estes nunca foram entendidos como preparação para um ataque minucioso dentro de território israelita.
3. Faz sentido dizer que este é o 11 de setembro de Israel?
Sim, foi esta a expressão usada por Clara Ferreira Alves no Jornal da Noite da SIC. É um ataque com forte simbolismo a uma potência, apanhada de surpresa, deixando a população civil totalmente vulnerável e uma enorme “pilha de cadáveres”.
4. Porque razão o Hamas lançou um ataque nesta data?
Os analistas são unânimes. No dia 6 assinalaram-se os 50 anos do início da guerra do Yom Kippur, quando o Egito e a Síria atacaram Israel a Sul e a Norte. O falhanço em prever o ataque de 1973 foi “compensado” com uma esmagadora vitória militar ao fim de três semanas de guerra, que humilharam a Síria e, em particular, o Egito, que dispunha das maiores Forças Armadas da região.
5. A retaliação de Israel vai ser brutal. Mas a existência de reféns israelitas faz diferença?
Sim. Israel sempre lidou mal com a existência de reféns seus. É um tema que mobiliza a sociedade israelita e que pode limitar as retaliações militares. Em 2011, Tel Aviv trocou um único soldado seu que estava refém do Hamas desde 2006 por mais de mil prisioneiros palestinianos que estavam em prisões israelitas, alguns com pena perpétua.
6. Haverá algum país interessado neste ataque do Hamas?
O Irão. Há anos que é o principal financiador e apoiante do Hamas e da Jihad Islâmica na Palestina, bem como do Hezbollah, milícia xiita libanesa. O Irão ficaria vulnerável a uma normalização de relações entre Israel e a Arábia Saudita – os dois maiores inimigos de Teerão, além dos EUA – e quer pôr em causa os Acordos de Abraão, já assinados entre Tel Aviv e os Emirados, Bahrein, Sudão e Marrocos.

7. A histórica aproximação entre Israel e a Arábia Saudita fica posta em causa?
É possível. Nos últimos meses, a aproximação entre estes dois inimigos tem sido inequívoca, quer pelo envolvimento direto dos EUA quer pela existência do arqui-inimigo comum, que ambos querem isolar: o Irão. A aproximação ficará agora em banho-maria.
8. A guerra na Ucrânia pode ser afetada pelo que se passou?
Sim. Historicamente, os EUA sempre deram prioridade à ajuda militar a Israel. Não só por razões geopolíticas, mas sobretudo por motivos de política interna americana. Num momento em que o Congresso suspendeu a ajuda a Kiev, a necessidade de apoiar Israel pode ser uma má notícia para Zelensky. A administração Biden vai querer estar nas duas “frentes”, mas nos EUA a causa israelita é muito mais popular que a da Ucrânia.