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Gaza está sob cerco total de Israel: "É terrorismo, não há humanidade"

Israel, que bombardeou pelo quarto dia seguido a Faixa de Gaza, garante que reconquistou o controlo da fronteira e expulsou ou matou os combatentes do Hamas infiltrados. Entre os dois lados, mais de 1.800 pessoas morreram desde sábado.

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O conflito, espoletado desde os ataques inesperados do Hamas no último sábado, já é o mais mortal em território israelita desde 2008. Na Palestina, desde 2015. E as previsões para os próximos dias não são as melhores.

Durante toda esta terça-feira, Gaza foi intensamente bombardeada. Quase todos os bairros foram atingidos, inclusive o porto da cidade, que está debaixo de um cerco total. A população está sem abastecimento de água, eletricidade, combustíveis ou bens alimentares.

O número de mortos do lado palestiniano ultrapassa os 800, inclusive quatro jornalistas, depois de Israel ter anunciado uma “ofensiva total” contra a Faixa de Gaza.

“A nossa zona é calma, não a reconheci”

As populações tentam retirar sobreviventes dos escombros dos edifícios bombardeados, e de outros que desmoronam com a violência do impacto.

Alguns não reconhecem os bairros de onde se ausentaram poucas horas antes.

"A nossa zona, a de al Rimal, é uma zona calma, mas quando cheguei aqui não a reconheci. Foi completamente destruída. É injusto, é verdadeiramente terrorismo. Não há humanidade", diz um local.

Muitos feridos são transportados para os hospitais em carrinhas de caixa aberta pelos habitantes do enclave. Faltam ambulâncias e médicos para dar resposta a um número crescente de feridos.

Improvisam-se espaços para receber os sobreviventes e também aqueles que não resistem com as morgues acima da capacidade com grande número de crianças.

Israel corta água, luz, comida e medicamentos

A ONU e a UNICEF apelaram a um cessar-fogo imediato e à abertura de um corredor humanitário. É importante realçar que 80% da população de Gaza já dependia da ajuda internacional antes dos atuais ataques.

Apesar dos apelos, que lembram o bloqueio é contrário ao direito internacional, Israel cortou o abastecimento da água, eletricidade, combustíveis, bens alimentares e medicamentos. Sem energia, os geradores locais, como os dos hospitais, apenas terão capacidade para alguns dias.

Sem abrigos, a população permanece nas ruas ou refugia-se nas escolas geridas pelas Nações Unidas. Algumas, no entanto, também já foram sido atingidas.

O porto de pesca de Gaza também foi atingido esta terça feira foi o funeral de dois jornalistas, dos seis que já perderam a vida desde o início dos ataques.

"Trata-se de algo sistemático", diz a jornalista Mona Oqal.

Por entre as várias centenas de mortos desta terça feira estão dois dirigentes do Hamas, cujos funerais percorreram as ruas de Gaza.

“Nunca vi algo assim”, diz general israelense



Mais de 1.000 pessoas já morreram em Israel desde sábado. Mas o exército judaico diz que já retomou o controlo das povoações invadidas e de toda a zona fronteiriça.

A escassos 2 quilómetros de Gaza, no kibbutz de Kfar Azza, houve ainda combates esta terça-feira para anular infiltrados do Hamas. Mais de 100 pessoas terão sido executadas nesta comunidade fronteiriça.

“A maior parte delas eram estudantes com famílias pequenas”, diz o soldado Ayal Avriel. “Servi durante 40 anos no exército. Nunca vi algo assim”, afirma o major general israelense Itai Veruv.

Em território israelita, o Hamas atacou Ashkelon, que está desde sábado na linha de frente da guerra, com foguetes e mísseis. De manhã, tinha anunciado uma retaliação pelos bombardeamentos a Gaza e avisado os moradores para abandonarem a cidade portuária até às cinco da tarde, hora local.

Sob a ameaça do Hamas, Telavive e Jerusalém são agora também cidades praticamente desertas, com escolas e comércio encerrados, e quase toda a gente nos abrigos.

Mais de 60.000 reservistas de Israel mobilizados

Nas últimas horas, houve ordem de mobilização para mais 60.000 reservistas a juntar aos 30.000 soldados já mobilizados.

Em estado de guerra total, Israel esqueceu as divisões e uniu-se em volta do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que comparou o Hamas ao Estado Islâmico.