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Entrevista SIC

UNICEF em Gaza: "O maior pedido das crianças foi por escolas"

Alerta para conteúdo violento.Lucia Emli conta que entre as crianças com quem falou em Rafah, junto à fronteira do Egipto, “o maior pedido foi por escolas”.

Crianças palestinianas na fronteira de Rafah, Faixa de Gaza
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A UNICEF sublinha que não há uma única criança em Gaza que não esteja a passar por um nível de trauma permanente na saúde mental. A SIC entrevistou este sábado a representante da organização nos territórios palestinianos que esteve em Gaza recentemente.

De acordo com a represente, Lucia Emli, entre as crianças que encontrou há um desejo que partilham em maioria, o de poder regressar à escola.

“O trauma revela-se na forma como falam, na forma como interagem com outras crianças, na forma como interagem co os adultos, às vezes também na forma como desenham, que por vezes não é imediatamente aparente”, defende Lucia Emli.

Há três meses que todas as crianças em Gaza vivem sobre um stress permanente.

“É preciso pessoal especializado que consiga identificar se uma criança não está a comer, não está a dormir, ou se urinam na cama… São todos indicadores. Uma criança de 15 anos em Gaza passou, pelo menos, por cinco grandes traumas ao longo deste tempo. Portanto há uma exposição constante ao que chamamos stress tóxico”, explica.

Sendo parte significativa dos habitantes de Gaza crianças e jovens, são uma grande parte das vítimas da guerra, que as autoridades palestinianas referem já ascender, pelo menos, às 10 mil mortes.

A UNICEF não consegue garantir este número, e admite não existirem as condições para apurar o número exato, apontando para milhares de mortes.

“O maior pedido foi por escolas”

Lucia Emli conta que entre as crianças com quem falou em Rafah, junto à fronteira do Egipto, “o maior pedido foi por escolas”.

“Elas querem voltar à escola. Sentem falta de recebe educação, de estar com outras crianças. Além disso, a escola passa uma ideia de normalidade. É algo normal na vida diária”, explica.

“Outra coisa que também me marcou foi o facto de haver crianças por todo o lado. Há um grande número de crianças. Gaza tem uma população muito jovem. Metade da população está abaixo dos 18 anos”, acrescenta.

A UNICEF acredita que cerca de 70% das infraestruturas sociais básicas foram danificadas ou destruídas, tais como sistemas de canalizações de água, escolas, hospitais, clínicas. Quase tudo necessita de ser reerguido e reconstruído ao longo da Faixa de Gaza.