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Esquerda vence por pouco: ausência de maiorias deixa futuro em aberto em França

Com o resultado das legislativas deste domingo, em França, nenhum dos partidos vai assegurar os 289 lugares necessários para uma maioria absoluta no Parlamento francês. O Palácio do Eliseu já veio dizer que Emmanuel Macron vai esperar pela nova composição da Assembleia Nacional francesa para “tomar as decisões necessárias”. 

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A coligação de esquerda Nova Frente Popular venceu a segunda volta das legislativas em França, sem maioria absoluta, mantendo assim em aberto a formação do novo Governo.

Segundo os resultados atualizados até ao momento, a aliança de esquerda (que junta socialistas, ecologistas e comunistas e é liderada pela França Insubmissa, partido de esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon) assegura 182 lugares na Assembleia Nacional, enquanto a aliança centrista do Presidente Emmanuel Macron segue em segundo lugar, com 168 lugares.

A grande derrotada da noite foi a extrema-direita de Marine Le Pen, que tinha vencido a primeira volta das legislativas. A União Nacional caiu da liderança para um terceiro lugar, com a conquista de 143 lugares.

Com este resultado, nenhum dos partidos vai assegurar os 289 lugares necessários para uma maioria absoluta no Parlamento francês, dos 577 lugares disponíveis.

Primeiro-ministro francês apresenta a demissão

Numa declaração ao país, o ainda primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, anunciou que vai apresentar a demissão a Emmanuel Macron durante a manhã desta segunda-feira.

Na justificação, o governante disse que não foi ele quem escolheu a dissolução da Assembleia Nacional, pelo que se recusa a “sofrê-la”.

"Sei que, neste momento, se apresentam muitas incertezas, uma vez que não há maioria absoluta. O nosso país está numa situação sem precedentes e vai ter muitas responsabilidades em breve."

Macron "tem o dever de chamar a Nova Frente Popular a governar"

Em reação ao resultado das primeiras projeções, o líder da França Insubmissa afirmou que, no final de uma campanha eleitoral "tão importante", o povo francês "votou em consciência".

"Foi realmente um movimento civil enorme e sabemos o quanto isso é importante. O nosso povo descartou, muito claramente, aquilo que era pior para França", referindo-se ao facto de partido de extrema-direita de Le Pen não ter alcançado a maioria absoluta como se chegou a apontar.

Para o Mélenchon, o chefe de Estado tem agora a obrigação de chamar a Nova Frente Popular a governar, uma coligação que "está pronta" para assumir tal responsabilidade. "A palavra vai ser cumprida: a Nova Frente Popular irá cumprir o seu programa na íntegra", garante.

Deixou ainda claro que a coligação que representa não entrará em negociações com o partido liberal de Macron, "sobretudo após ter combatido a sua política de inação ecológica".

Marine Le Pen diz que vitória da extrema-direita em França ficou "apenas adiada"

Após as projeções, a líder da extrema-direita francesa Marine Le Pen afirmou que a vitória ficou "apenas adiada". Ainda assim, assinalou que a "maré está a subir": "Desta vez não subiu suficientemente alto, mas continua a subir. E, por isso, a nossa vitória só tarda."

"Tenho demasiada experiência para ficar desiludida com um resultado em que duplicamos o nosso número de deputados", segundo a dirigente, comentando as projeções divulgadas após o fecho das urnas.

Macron vai esperar para “tomar as decisões necessárias”

Logo ao início da noite de domingo, o Palácio do Eliseu disse que Emmanuel Macron vai esperar pela nova composição da Assembleia Nacional francesa para “tomar as decisões necessárias”.

Ou seja, o Presidente francês anunciou que não vai nomear um primeiro-ministro para já e pediu “contenção” face aos resultados, ainda provisórios

Stéphane Séjourné, secretário-geral do partido do Presidente francês, o Ensemble, afirmou ser óbvio que a Nova Frente Popular "não pode governar a França", uma vez que nenhuma coligação tem maioria.

O que aconteceu na primeira volta?

A 30 de junho, o partido de extrema-direita conseguiu vencer pela primeira vez as legislativas, ao obter 33,1% dos votos e quase duplicar o seu apoio desde que a França elegeu a sua Assembleia Nacional pela última vez, em 2022.

Em segundo lugar, ficou a Nova Frente Popular, com 28%. Seguiu-se o Ensemble de Macron, que obteve 20%.

As eleições legislativas foram convocadas pelo Presidente francês, após a derrota do seu partido e a acentuada subida da União Nacional nas eleições para o Parlamento Europeu de 9 de junho. A escolha de um novo executivo deveria ocorrer apenas em 2027.