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Mulheres e meninas perderam a voz no Afeganistão: “Um pássaro pode cantar em Cabul, uma mulher não”

A nova lei dos vícios e das virtudes, adotada em agosto a mando do principal líder Talibã, está em vigor há um mês e é ainda mais restritiva para quem não nasceu homem. São 14 milhões de pessoas sem voz, sem liberdade e sem direitos.

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As Nações Unidas voltaram a apelar ao fim da segregação das mulheres e meninas no Afeganistão e ao respeito pelos direitos humanos. Três anos depois de terem reconquistado o poder, os Talibã continuam a destruir tudo o que as mulheres afegãs tinham conseguido conquistar nas últimas décadas.

Há mais de um século, as mulheres afegãs podiam votar. Hoje, sob o domínio Talibã, nem sequer podem ser ouvidas em público. Proibidas de falar alto, ou cantar fora de casa. São 14 milhões de pessoas sem voz, sem direito à educação, à liberdade de movimentos e à liberdade de escolha sobre o futuro.

A nova lei dos vícios e das virtudes, adotada em agosto a mando do principal líder Talibã, está em vigor há um mês e é ainda mais restritiva para quem não nasceu homem.

“Hoje, em Cabul, uma gata tem mais liberdade do que uma mulher. Uma gata pode ir sentar-se na varanda e sentir o sol na pele. Pode perseguir um esquilo até ao parque. Um esquilo tem mais direitos do que uma menina no Afeganistão de hoje, porque os parques públicos foram fechados às mulheres e raparigas pelos Talibã. Um pássaro pode cantar em Cabul, mas uma mulher não pode cantar em público”.

Quem o diz é a atriz Meryl Streep, que quis juntar-se à luta pela defesa da liberdade das mulheres e meninas afegãs, numa das muitas conferências organizadas pela ONU, à margem da 79.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, que arrancou esta terça-feira em Nova Iorque.

“Sem mulheres instruídas, sem mulheres empregadas, incluindo em cargos de liderança, e sem reconhecer os direitos e liberdades de metade da sua população, o Afeganistão nunca ocupará o lugar que lhe cabe na cena mundial”, acrescentou Meryl Streep.

Os Talibã recuperaram o poder em 2021, depois da saída dos militares norte-americanos, que estiveram estacionados no Afeganistão durante 20 anos.

Recorde-se que uma das primeiras decisões que o grupo tomou, quando regressou ao Governo, foi pôr fim à liberdade das mulheres e meninas afegãs que vivem, agora, confinadas em casa, à mercê das ordens e vontades dos pais, irmãos e maridos.