Um jovem palestiniano que canta e toca alaúde alegra os dias dos mais jovens que vivem num campo de refugiados, na Faixa de Gaza. Youssef teme pela vida diariamente, mas garante estar determinado a prosseguir a sua missão.
Youssef Saad percorre diariamente de bicicleta as ruas de Gaza. Do passado restam apenas os destroços dos edifícios atingidos pelos constantes bombardeamentos israelitas, que fazem já parte do quotidiano daqueles que, nos últimos 11 meses, têm conseguido sobreviver.
Durante o caminho entre a casa dos familiares onde agora vive, depois de a habitação da família ter sido destruída, e o campo de Jabalia, Youssef passa pelo que outrora já foi o seu lar. Sobe os escombros e toca alaúde, a sua grande paixão.
“Como podem ver a destruição aqui, estou agora sobre os escombros da nossa casa. A nossa casa costumava ser uma cidade de sonhos. Todas as minhas esperanças e sonhos estavam nela. Mal tivemos tempo de a desfrutar porque mudámo-nos apenas dois anos antes da guerra”, lamentou o adolescente à agência Reuters.
Sem medo do que pode acontecer, o jovem de apenas 15 arrisca a vida todos os dias com um só objetivo em mente: cantar e tocar alaúde para as crianças e jovens que agora chamam de casa ao centro de refugiados de Jabalia.
Levar alegria e fazer esquecer – tanto quanto possível - os horrores da guerra é a missão do aspirante a músico, que não esquece a saúde mental dos mais jovens:
“Arriscamos as nossas vidas por causa das crianças e do seu entretenimento e para melhorar a saúde mental daqueles que estão feridos, ou cujo pai ou mãe foram martirizados. Tentamos melhorar a sua saúde mental, mesmo que isso implique colocar-me em risco e perigo e, apesar das longas distâncias, este é o meu papel para com as crianças” .
Bombardeamentos? "Tentamos ultrapassar isso"
Garante que adora o que faz e que não deixará de prestar auxílio aos mais jovens, mas isso não o faz esquecer dos perigos a que está exposto.
"Temos muito medo de que, enquanto estamos a trabalhar, o espaço possa ser bombardeado ou que possa ocorrer um bombardeamento nas proximidades. Isto é um desafio para nós, enquanto membros da equipa que trabalham no campo, mas tentamos ultrapassar isso", confessa.
O adolescente tinha começado a estudar no Conservatório Nacional de Música Edward Said quando o conflito entre Israel e o Hamas escalou, em outubro de 2023.
Garante que pretende voltar aos estudos assim que possível, mas sabe que não o fará no mesmo local, isto porque o Conservatório Nacional ficou reduzido a escombros.
"Queria aprender música, mas a guerra chegou. Estou a comunicar com a direção do instituto para continuar a minha formação porque quero ser importante no campo da música, especificamente. Queria entreter as crianças, como já disse. As crianças são o núcleo da sociedade", refere.
Não sabe o que esperar do futuro, mas sabe que as crianças e os jovens da Palestina devem ser resilientes "mesmo perante um genocídio".
"Se viveres, vive livre, ou morre de pé como as árvores" é o lema que Youssef Saad não esquece e que o ajuda a ultrapassar os dias mais difíceis.
Com Reuters