Olhares pelo Mundo

"Sonho tornado realidade": descobertas no Pacífico criaturas misteriosas que se alimentam de substâncias químicas

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Cientistas que mergulharam a profundidades impressionantes no Noroeste do Oceano Pacífico descobriram comunidades marinhas florescentes de criaturas que não consomem matéria orgânica, como acontece com a maioria dos animais, mas têm a capacidade inédita de transformar substâncias químicas em energia.

Estas comunidades animais baseadas na quimiossíntese – dominadas por vermes tubulares e amêijoas – foram encontradas durante uma missão que incluiu uma série de mergulhos a bordo de um submersível tripulado até ao fundo das Fossas das Curilas-Kamchatka e das Aleutas.

As criaturas começaram a ser estudadas e os investigadores perceberam que se alimentam de fluidos ricos em sulfureto de hidrogénio e metano que emanam do fundo do mar num ambiente escuro e gelado, muito para além do alcance da luz solar.

"É a primeira descoberta de vida quimiossintética no fundo do mar - a primeira coisa que me passou pela cabeça foi 'não acredito', mas passados alguns minutos, percebi que se tratava de um novo tipo de área de libertação fria e silenciosa de gases. Senti que é como 'um sonho tornado realidade'", admitiu Mengran Du, diretora-adjunta do Instituto de Ciência e Engenharia de Águas Profundas da China (IDSSE)

A quimiossíntese é um processo biológico no qual alguns organismos produzem compostos orgânicos a partir de substâncias químicas inorgânicas, utilizando a energia libertada por reações químicas, em vez da energia da luz solar, como acontece na fotossíntese.

Estes ecossistemas foram descobertos a profundidades superiores à altura do Monte Evereste, o pico mais alto da Terra. O mais profundo foi encontrado a 9.533 metros abaixo da superfície do oceano.

"Os mecanismos, os truques de como esta vida se adapta a ambientes tão extremos têm de ter alguma forma especial, como a adaptação à pressão extremamente elevada. Possuem uma ferramenta muito específica para fazer frente à oxidação, por isso, se conseguirmos aprender com este processo antioxidante, talvez venhamos a poder beneficiar do conhecimento sobre novas formas de vida", explica Mengran Du, em entrevista à agência Reuters.

Os resultados da descoberta impressionante para a biologia marinha, realizada por um grupo de cientistas do IDSSE, foi publicado na revista Nature, no final de julho.

Segundo este estudo, outras formas de vida já haviam sido descobertas a grande profundidade oceânica, mas até agora nenhuma delas tinha como fonte de alimentação substâncias, o que confere maior relevância a esta investigação.