Opinião

“Impeachment” suicida?

O processo de destituição de Donald Trump pode ter consequências graves para os democratas.

“Impeachment” suicida?
Tom Brenner

A impugnação (impeachment) de Donald Trump não resultará, na ausência de uma relevação cataclísmica de proporções bíblicas, na sua destituição.

Uma impugnação, agora quase certa, na Câmara dos Representantes seria seguida de julgamento no Senado onde não há a maioria de dois terços necessária à condenação e subsequente destituição de um presidente.

Para ser eficaz para os democratas adversários de Trump, uma impugnação que o deixa na Casa Branca vale por duas coisas: 1) resulta em revelações suficientemente graves para alargar o eleitorado activo anti-Trump e 2) deixa uma nódoa perene no nome do impugnado.

Mas o processo só resulta se tiver aprovação pública e esta depende de apoio forte, medido pelas sondagens.

Sem uma maioria clara no apoio ao processo de impugnação e destituição, os democratas arriscam-se a ser punidos pelo eleitorado nas eleições de 3 de Novembro. No dia em que se escreve este texto, 15 de Novembro, ainda não há sondagens sobre o impacto dos dois primeiros dias de audições públicas.

Tudo vai depender da capacidade dos democratas para colocar o assunto, em termos simples, à opinião pública: o que fez Trump para merecer um processo de destituição?

O relatório Mueller, sobre a cumplicidade da campanha de Donald Trump na interferência russa nas eleições de 2016, era um volume de 438 páginas de texto denso e sem conclusões claras. A forma como foi divulgado, a conta-gotas, manipulado pelo Departamento de Justiça, inviabilizou quaisquer consequências políticas do mesmo.

Nestas audições, os democratas controlam a narrativa e a líder do Congresso, Nancy Pelosi, lançou publicamente uma forte acusação contra Trump: “suborno”.

O raciocínio de Pelosi é que oferecer a previamente autorizada assistência militar à Ucrânia, apenas se esta investigasse os adversários políticos de Trump é suborno.

Mas, “suborno” é também uma das causas explicitamente previstas no Artº 2º, Secção 4ª da Constituição dos Estados Unidos, para a impugnação e destituição de um Presidente.

Para já, as audições mostram os democratas a construírem um caso de corrupção política e obstrução contra Trump; e os republicanos a ignorarem a matéria factual e a atacarem a credibilidade das testemunhas, a utilidade dos seus depoimentos e a trazerem à discussão alegações infundadas sobre o pré-candidato presidencial democrata Joe Biden e o seu filho.

Nas sondagens à opinião pública a média do apoio à destituição queda-se pelos 49% (números anteriores ao início das audições públicas). Outras sondagens sugerem que apenas 10% por cento dos eleitores estão disponíveis para mudar de opinião sobre este processo.

O sucesso daquelas estratégias será visível nos próximos dias, quando novas sondagens avaliarem a reacção pública ao que se passa em Washington. Mas sem uma maioria clara a favor da impugnação e destituição, este processo pode ser suicida.