Os ex-fumadores vão comprar tabaco. Os abstémios abrem uma garrafa de whisky. Os cardíacos põem um comprimido debaixo da língua. Os fanáticos da nutrição afundam-se numa caixa de pastéis de nata. E até os mestres da meditação trocam o nirvana por gritaria. É assim o Portugal de Fernando Santos.
Nunca está ganho, nunca está perdido. Nunca há descanso. Como um prédio que desaba quando está quase finalizado para depois se reerguer à mesma velocidade. Estamos na praia e começa a chover. Estamos na neve e vem o calor que transforma o gelo em piscina.
Desesperamos, rezamos e, no final, muitas vezes, ganhamos. Vamos à volta quando podemos ir em frente. Mas até costumamos chegar a tempo.
Contra a Turquia não foi diferente. Fernando Santos arriscou. Desta vez ninguém pode criticá-lo por conservadorismo. Mudou de guarda-redes e Diogo Costa não tremeu. Pôs Otávio de início (o homem do jogo), deixou o 6 de raiz no banco e fez um meio-campo que privilegiou o domínio com bola do que a habitual contenção sem a mesma.
Portugal foi melhor. Em alguns momentos, muito melhor. Podia ter feito o 3-0 e viu Burak Yilmaz falhar o penálti que nos atirava para o prolongamento. A tal história: céu e inferno sempre servidos no mesmo prato.
E depois vem todo o lado milagroso que nos acompanha desde 2016. Enquanto Matheus Nunes marca no Dragão, um tal de Tajkovski veste a pele de Éder para tirar a Itália do nosso caminho com o drama a abater-se sobre Palermo.
Falta a Macedónia. E ninguém ganha antes de jogar. Mas que ganhe. E que a Seleção volte a estar numa fase final de uma grande competição, como acontece, de forma ininterrupta, desde 2000. Algo que na Europa, além de Portugal, só foi alcançado por França, Alemanha e Espanha.
Já sabemos é que não vale a pena pedir uma noite descansada. É para sofrer. Para sofrer e vencer. O resto, o que está mal e pode melhorar, o que está bom e é para manter, o resto fica para depois. Até porque nem tudo é bom quando se ganha e nem tudo é apocalítico quando se perde.
Agora é deixar crescer as unhas até terça-feira e preparar o coração. E rezar, claro. Com o engenheiro aprendemos que a reza é tão importante como o treino. Mas com ele ao volante, valha a verdade, a viagem nunca é aborrecida. E com todas as suas virtudes e defeitos, continua a fazer-nos sonhar. Algo que já não acontece com os italianos. Como se diz Mundial em macedónio? Não queremos saber.