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Alegações finais do processo "Face Oculta" começam hoje

O Ministério Público (MP) inicia hoje as alegações finais do julgamento do processo "Face Oculta", que tem entre os arguidos figuras mediáticas como o ex-ministro socialista Armando Vara, o ex-presidente da REN, José Penedos, e o seu filho Paulo Penedos. 

Paulo Penedos e José Penedos (à direita), ex-presidente da REN, estão entre os arguidos do processo "Face Oculta" (Lusa/ Arquivo)
PAULO NOVAIS

O processo, que começou com as buscas a empresas do sucateiro Manuel  Godinho, em setembro de 2008, está a ser julgado há mais de dois anos no  tribunal de Aveiro. 

A sessão de hoje começa às 09:45 e será dedicada às alegações do MP,  que acusa 36 arguidos, incluindo duas empresas, de centenas de crimes de  burla, branqueamento de capitais, corrupção e tráfico de influências. 

As alegações do MP deverão estender-se até sexta-feira, seguindo-se  as alegações dos advogados dos assistentes, a partir do dia 25, com a intervenção  da EDP Imobiliária. 

Para 4 de março está marcado o início das alegações dos advogados de  defesa dos arguidos, com o defensor do sucateiro Manuel Godinho, o principal  arguido no caso. 

As alegações finais do advogado de Armando Vara estão marcadas para  12 de março, enquanto os defensores de José Penedos e Paulo Penedos alegam  a 20 de março. 

A semana de 1 a 4 de abril fica reservada para as réplicas e últimas  declarações de arguidos. 

Durante as 168 sessões do julgamento, foram ouvidas mais de 350 pessoas  entre arguidos, testemunhas, peritos e consultores. 

Apenas dez dos 36 arguidos aceitaram depor perante o coletivo de juízes  (Armando Vara, José Penedos, Paulo Penedos, António Paulo Costa, José António  Contradanças, Namércio Cunha, Fernando Santos, Vítor Batista, José Magano  Rodrigues e Silva Correia). Todos os restantes, incluindo o sucateiro Manuel  Godinho, remeteram-se ao silêncio. 

O processo "Face Oculta" está relacionado com uma alegada rede de corrupção  que teria como objetivo o favorecimento do grupo empresarial do sucateiro  Manuel Godinho, nos negócios com empresas do setor empresarial do Estado  e privadas. 

Uma das questões mais polémicas do processo reside nas escutas telefónicas  que envolvem o ex-primeiro ministro José Sócrates e que foram alvo de várias  decisões de destruição do então presidente do Supremo Tribunal de Justiça,  Noronha de Nascimento. 

Existem cinco, no entanto, "produtos de voz" (gravações) e 26 mensagens  de telemóvel (SMS) que escaparam à ordem de destruição e que permanecem  guardados num cofre no Tribunal de Ovar. 

O advogado Ricardo Sá Fernandes, que defende o arguido Paulo Penedos,  já disse que a destruição das escutas é o "pecado original" deste processo.

O causídico considera "inadmissível" os arguidos não poderem ter acesso  a este meio de prova e já pediu a nulidade das escutas, mas o coletivo de  juízes remeteu uma decisão sobre esta questão para o acórdão final. 

 

Lusa