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Cheias de 1967: "Quando cheguei, encontrei tudo num pandemónio"

Não era da aldeia, mas era como fosse. A mulher aqui nasceu. Aqui era para ter ficado, mais os dois filhos, nessa noite. Teve de acompanhar a mãe, já perto da morte. A mulher e os filhos ficaram na casa da sogra. Não dormiram, como sempre, nos últimos 5 anos, na casa que sempre os acolheu para prenoitar. A casa onde morreram 5 dos 8 que aqui viviam. Ao regressar a Quintas, António Macedo encontrou morte e desespero.

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"Cheias de 1967, 50 anos depois" é uma reportagem a ver hoje no Jornal da Noite da SIC.

Naquela noite de 25 para 26 de novembro de 1967, a morte caiu do céu. A chuva miudinha ao longo do dia de sábado passou a tormenta e virou demónio que arrastou consigo centenas de vidas. A tragédia despertou o país para a pobreza nos arredores de Lisboa, onde milhares viviam encaixados em barracas, perto de ribeiros, sem eletricidade ou esgotos.

O regime quis, dias depois, censurar o número exato de vidas que se perderam. Ficou-se pelos mais de 460, de acordo com o balanço oficial. Terão sido à volta de 700, os mortos.

A chuva que caiu atingiu valores históricos, com o registo num período de cinco horas, ao cair da noite, a atingir o valor médio habitual para todo o mês de novembro. Choveu muito e com bastante intensidade, acima de tudo na linha de Cascais. Sendo que é nos arredores da capital que mais vidas se perderam, nos bairros pobres cheios de miséria, em Odivelas ou Loures.

Também no Ribatejo o dilúvio matou sem perdão. No lugar das Quintas, perto de Castanheira, morreram quase uma centena. Ficou conhecida como a aldeia mártir. As cheias de 1967 são ainda hoje conhecidas como a pior catástrofe natural depois do terramoto de 1755.