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Mulheres Socialistas lamentam acórdão que deixou em liberdade violadores de mulher

As Mulheres Socialistas criticaram esta sexta-feira implicitamente o acórdão do Tribunal da Relação do Porto que confirmou penas suspensas para dois homens que abusaram sexualmente de uma mulher numa discoteca.

Mulheres Socialistas lamentam acórdão que deixou em liberdade violadores de mulher
LUSA

Em comunicado, o departamento de mulheres do PS reitera a sua posição "contra situações que possam levar à perpetuação de estereótipos de género, nomeadamente, contra narrativas que se baseiem na responsabilização das vítimas de violência sexual e da eventual desculpabilização deste tipo de violência, levando consequentemente à sua normalização".

Apesar de afirmar não pretender "tecer considerações sobre o conteúdo do Acórdão, respeitando assim a separação de poderes do Estado de Direito, a independência dos tribunais e os princípios da legalidade", o departamento de mulheres do PS, liderado pela antiga secretária de Estado Elza Pais, não deixa de lamentar o seu conteúdo.

"Não podemos deixar de lamentar que um acórdão que nos últimos dias devia ter sido citado e replicado por bons motivos, tenha acabado por ficar conhecido pelas piores razões. Na verdade, deve ser também referida, e nesta parte aplaudida, a parte do acórdão em que se decide anular parcialmente a decisão recorrida, para que o caso seja novamente apreciado ao abrigo do Estatuto da Vítima especialmente vulnerável, no sentido de ser averiguado da necessidade de arbitramento de uma indemnização à vítima", assinalam as mulheres socialistas.

A estrutura dirigida por Elza Pais recorda que "a vida livre de violência para mulheres e meninas é um direito fundamental e inalienável, que está consagrado nos direitos humanos internacionais e nas leis humanitárias".

"As MS-ID prosseguirão os seus esforços no combate à violência contra as mulheres, que é uma causa que é de todos e todas nós, continuando a considerar este debate incontornável na sociedade portuguesa, que deve ser feito de forma aberta e sem preconceitos, na procura das melhores soluções para a salvaguarda dos direitos humanos", conclui o comunicado.

O Tribunal da Relação do Porto recusou, em 27 de junho, um pedido do Ministério Público para transformar em prisão efetiva a pena suspensa decida para os dois homens no tribunal de primeira instância de Vila Nova de Gaia.

Os desembargadores que assinaram o acórdão, incluindo o dirigente da Associação Sindical de Juízes Manuel Soares, argumentaram que "a culpa dos arguidos situa-se na mediania, ao fim de uma noite com muita bebida alcoólica" e num "ambiente de sedução mútua".

O caso ocorreu em novembro de 2016 numa discoteca de Vila Nova de Gaia e a vítima, de 26 anos, chegou a estar inconsciente por excesso de consumo de álcool, mas os dois homens alegaram sempre que ela consentiu as relações sexuais.

Em 8 de fevereiro de 2018, o Tribunal de Vila Nova de Gaia condenou os dois arguidos a pena de prisão de quatro anos e meio, suspensa na sua execução, pela prática, em autoria material, de um crime de abuso sexual de pessoa incapaz de resistência.

O Ministério Público recorreu, pedindo condenação a pena efetiva, mas os juízes do Tribunal da Relação do Porto mantiveram a condenação em primeira instância num acórdão de 27 de junho.

O acórdão motivou já um protesto público, numa praça do Porto, ao final da tarde de quarta-feira, estando agendados outros hoje e sexta-feira, em Coimbra e Lisboa, respetivamente.

Lusa