Os bispos católicos portugueses aprovaram por unanimidade, esta quinta-feira, na Assembleia Plenária da Conferência Episcopal, a criação de uma comissão nacional independente para investigar os abusos sexuais de menores cometidos por membros da igreja.
Esta comissão será uma espécie de "task-force" para a prevenção dos abusos sexuais de menores no seio da Igreja Católica, constituída por um conjunto de pessoas leigas e "algumas não católicas. O objetivo será orientar e supervisionar as 21 organizações diocesanas criadas em 2019.
"Reconhecendo o trabalho das comissões diocesanas, constituídas especialmente por leigos qualificados em várias áreas como o Direito, a Psiquiatria e a Psicologia, a Assembleia decidiu criar uma comissão nacional para reforçar e alargar o atendimento dos casos e o respetivo acompanhamento a nível civil e canónico e fazer o estudo em ordem ao apuramento histórico desta grave questão. Nesse sentido, é constituído um ponto de escuta permanente a nível nacional", lê-se no comunicado da Conferência Episcopal Portuguesa.
Em conferência de imprensa, D. José Ornelas, bispo de Setúbal e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, disse que os bispos não receiam a investigação sobre abusos sexuais na Igreja.
“Temos muita pena e custa-nos muito tratar estas coisas [abusos sexuais], como qualquer família que tratasse de um problema destes, mas não temos medo e temos todo o interesse em esclarecer tudo isto”, afirmou José Ornelas na conferência, após o encerramento da Assembleia Plenária".
D. José Ornelas afirmou também que os bispos querem que esta comissão questione "quer a Igreja, quer a sociedade com os verdadeiros temas (...) e também de dar contas para que se tenha a dimensão clara desta situação".
A 201.ª Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa decorria desde segunda-feira, em Fátima.
Mais de 200 católicos assinam carta a exigir investigação independente aos abusos sexuais na Igreja
No dia em que começou a Assembleia Plenária da CEP, foi enviada uma carta assinada por mais de 200 católicos a D. José Ornelas a pedir que fosse feita uma investigação independente aos abusos sexuais na Igreja.
A carta assinada por mais de duas centenas de católicos portugueses pedia o lançamento de uma investigação nacional independente sobre os crimes de abusos sexuais cometidos nos últimos 50 anos.
"Apelamos veementemente à CEP que se alinhe com as orientações do Papa Francisco e tome, com caráter de urgência, a decisão de lançar uma investigação nacional rigorosa, abrangente e verdadeiramente independente, com o arco temporal de 50 anos."
Os subscritores manifestavam o ceticismo que sentem em relação ao baixo número de abusos reportados em Portugal - cerca de uma dezena ao longo da última década - e dizem que não têm conhecimento de razões sociológicas que permitam que a experiência na Igreja portuguesa tenha sido diferente da de outros países.
No mesmo dia em que esta carta foi enviada, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa prometeu que a Igreja tudo faria para apurar a verdade histórica dos abusos sexuais no seio da instituição.
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