O patriarcado de Lisboa confirma que recebeu uma denúncia de abusos sexuais cometidos por um sacerdote, no final da década de 90, mas o padre foi mantido em funções e as suspeitas não foram comunicadas às autoridades.
Duas décadas depois dos abusos sexuais cometidos, o atual patriarca, D. Manuel Clemente, encontrou-se com a vítima, que não quis divulgar o caso. A denúncia chegou agora à comissão que investiga os abusos na Igreja e foi enviado à polícia judiciária, refere uma nota enviada à comunicação social.
O menino, na altura com 11 anos, terá sido abusado por um padre que, nos anos 90, dirigia duas paróquias em Lisboa. O caso relatado pelo Jornal Observador refere que a mãe da alegada vítima terá estranhado o comportamento do padre junto de crianças. Anos mais tarde, as suspeitas terão sido confirmadas pelo filho.
Segundo adianta o diário, a mãe denunciou o caso a D. José Policarpo, na altura Patriarca de Lisboa, e também a outros elementos do Patriarcado. Mas nunca terá havido qualquer comunicação às autoridades civis e o padre manteve-se em funções.
Quando, há três anos, o Papa Francisco decidiu que todas as dioceses teriam de criar uma comissão de proteção de menores, a alegada vitima, agora um adulto, ganhou coragem para denunciar mais uma vez os abusos ao atual patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.
No entanto, segundo se sabe, nada voltou a ser feito.
Contactado pela SIC, o Patriarcado de Lisboa recusou gravar uma entrevista, mas o gabinete de comunicação de D. Manuel Clemente confirma por escrito que recebeu no final da década de 90 uma queixa contra um sacerdote por alegados abusos sexuais.
O Patriarcado de Lisboa confirma que recebeu, no final da década de 90, uma queixa contra um sacerdote por alegados abusos sexuais e que o atual Patriarca se encontrou com a vítima, que não quis divulgar o caso.
A confirmar-se, este crime já terá prescrito. Entretanto, o sacerdote suspeito está hospitalizado e já não exerce funções.
O patriarcado diz agora, depois da denuncia ter sido tornada publica, que está disponível para colaborar com as autoridades, mas a atuação do Patriarca de Lisboa contrariou as atuais normas internas da Igreja Católica, que determinam que todos os casos, mesmo os que já se encontrem prescritos, devem ser comunicados à policia.
Em abril passado, na Missa Crismal, D. Manuel Clemente pedia perdão às vítimas e dizia ser necessário corrigir os erros.
O pedopsiquiatra Pedro Strecht, que lidera a comissão que investiga os abusos sexuais na Igreja em Portugal, refere em comunicado enviado às redações, que as denúncias recebidas que configuram crimes são sempre "enviadas diretamente para o Ministério Público e para a Polícia Judiciária" e que, até ao momento, quatro já foram "arquivadas".
Os dados mais recentes divulgados pela comissão davam conta de cerca de 300 denúncias, 16 das quais ainda não tinham prescrito e foram encaminhadas para o Ministério Público.