A falta de acessibilidade no espaço público em Lisboa afeta as pessoas com mobilidade reduzida. Uma pessoa de cadeira de rodas e uma mãe com um carrinho de bebé partilham as dificuldades sentidas quando pretendem deslocar-se ao centro de Lisboa.
A cidade de Lisboa não está, em grande parte, preparada para a deslocação de pessoas com mobilidade reduzida, e quem o diz são os próprios lesados pela falta de acessibilidade. Nuno de Carvalho Mata, de 36 anos é um dos variados exemplos deste problema que se verifica na capital portuguesa. Nuno desloca-se através de uma cadeira de rodas e diariamente vê a sua vida condicionada pela falta de acesso a vários locais.
Em muitas ocasiões o próprio revela que não chega a entrar nas lojas e vê-se obrigado a ficar à porta, não podendo assim acompanhar a família em várias situações. Situações essas que vê com desgosto e tristeza por não permitirem que acompanhe o filho nesses momentos.
"Era como se tivesse a ser posto de parte do crescimento do meu filho", confessa Nuno.
Noutros casos os locais até podem possuir escadas rolantes de acesso ao interior, mas não suportam o peso da cadeira de rodas, impossibilitando também o acesso de Nuno.
Bianca Matos, uma mãe que percorre frequentemente as ruas de Lisboa com um carrinho de bebé, vê-se várias vezes confrontada com os mesmo problemas de Nuno Mata. Transportar uma criança num carrinho próprio para o efeito pode tornar-se um desafio devido aos passeios elevados e às muitas escadas acentuadas.
Confessa que mesmo que por vezes vezes existam ruas com escadas rolantes para subir, para descer não existe solução. Sempre que sai de casa, Bianca tem de planear meticulosamente as ruas e o caminhos que irá percorrer, de modo a evitar situações que impeçam a sua passagem e do carrinho que transporta com a criança.
É justamente para solucionar questões que afetam pessoas como Nuno e Bianca, que a Associação Salvador, fundada em 2003, trabalha diariamente. Esta entidade considera que a falta de acessibilidade “é o maior problema que existe em Portugal” para as pessoas com mobilidade reduzida.
Salvador Mendes de Almeida, fundador da associação, diz que menos de 10% das autarquias portuguesas têm planos de acessibilidade para tornar as cidades verdadeiramente acessíveis. Lisboa, especificamente, já possui um plano neste sentido, e já tem vindo a realizar trabalho nesta temática embora que demorado, aponta.
"Mais do que a fiscalização, o nosso papel e aquilo que queremos é sensibilizar e mudar através do exemplo, do auxílio e eu não quero falar da pandemia, mas a verdade é que os negócios da cidade também sofreram com o impacto em termos económicos", afirma Ana Raimundo, diretora municipal da mobilidade da Câmara de Lisboa.
Segundo os Censos de 2011, mais de 7% dos habitantes da capital possuem mobilidade reduzida, e para facilitar a vida a estas pessoas a Câmara de Lisboa criou um projeto intitulado de VoxPop, que oferece um milhão de euros a 20 projetos que facilitem a mobilidade na cidade.