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A ida de Marcelo (e companhia) ao Qatar, o "grande erro de Portugal"

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Ricardo Costa e Paulo Baldaia, da SIC, comentam o arranque do Mundial no Qatar, que está envolto em muita polémica e, que em campo já está a ser pontuado por protestos dos jogadores.

O Parlamento deu (como esperado) luz verde à deslocação do Presidente da República ao Qatar para assistir ao jogo de estreia da seleção nacional na competição. Mas a aprovação não foi consensual. IL e Bloco de Esquerda contestaram. Ricardo Costa e Paulo Baldaia explicam, na antena da SIC, que a aprovação não surpreende mas a ida é questionável.

“A autorização é sempre obrigatória porque está na Constituição (…), mas normalmente essa autorização é uma mera formalidade. Em relação ao tema em si, na minha opinião, o Parlamento estava obrigado a aprovar, percebo a posição da IL e do Bloco mas o dia que estes partidos estejam no Governo deixaram de questionar este tipo de decisões, porque primeiro é uma questão de Estado e depois há a questão de o Parlamento não poder interferir na agenda do Presidente, salvo se haja uma força maior”, explicou Ricardo Costa.

Quanto ao Qatar, “o erro de Portugal, que já vem de outros mundiais é enviar as mais altas figuras do Estado ao primeiro, ao segundo ao terceiro jogo. (…) É uma coisa profundamente ridícula que vem de um passado relativamente recente e não devia acontecer. Portugal devia esperar e decidir mais à frente o que fazia, nomeadamente num mundial como este pela forma como foi aprovado, pela forma como foi construído e como até é jogado num país que não só não tem tradição como no dia a seguir ao mundial acabar, deixa de ter futebol”.

No mesmo sentido, Paulo Baldaia lembrou que “o Qatar comprou este mundial para fazer uma limpeza de imagem, uma operação de marketing em grande escala que custou 220 mil milhões de euros. Portanto qualquer governante que lá vá está a caucionar esta estratégia, esta lavagem de imagem de um país em que as mulheres são tuteladas por uma figura masculina”.

Pelo que, prosseguiu, “não estamos obrigados [a ir], e aí sim, acho que é o grande erro de Portugal, o de embarcar já numa vertigem desportiva e de alguma forma parecendo que estão a assinar por baixo toda a polémica gravíssima em torno do mundial do Qatar”.

"Há uma distinção importante a fazer que é a competição desportiva em si (…), outra coisa são os mais altos signatários do país - Presidente da República, presidente da Assembleia da República e primeiro-ministro - irem a correr participar nesses jogos quando não há necessidade nenhuma para o país", contestou Paulo Baldaia.

Para o debate, Ricardo Costa recordou o Mundial de 1978 na Argentina, para dar o exemplo de um evento em que o resultado foi diferente do esperado.

“Muitas vezes estes tiros saem pela culatra dos organizadores, nomeadamente quando há grande pressão internacional, foi o caso na Argentina em 1978, não só de não limpeza do regime como o tema mais grave que havia na ditadura - que era a morte de presos políticos - deu uma visibilidade enorme ao caso das Mães da Praça de Maio”.

Acontece que, “há um ponto mais grave, é que ao contrário da Argentina, que em 78 não tinha grande peso na economia mundial e ao nível geopolítico, o Qatar neste momento tem uma coisa que é o segundo maior exportador mundial de gás natural - ainda hoje assinou com a China o maior contrato de sempre no mundo -, e se eles não precisam muito da Europa para a exportação, mas a Europa precisa do Qatar. E esse é o calcanhar de Aquiles dos países europeus”.

Paulo Baldaia esclareceu ainda outro ponto: a discussão e polémicas na véspera do arranque da competição. O comentador SIC lembrou que foi um tema “discutido e criticado” aquando do anúncio, “mas obviamente a proximidade e o estar a acontecer faz com que seja absolutamente necessário criticar agora”.

Mais, prosseguiu, “se há uma limpeza de imagem por parte do Qatar, compete a quem está contra isso criticar para que haja um equilíbrio. É por isso que vemos os jogadores a ajoelharem-se em campo”.

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