A dois dias da votação da moção de censura, apresentada pela Iniciativa Liberal, o PSD anunciou que irá abster-se. Hugo Soares, secretário-geral do PSD, garante que o maior partido da oposição está a ser “absolutamente coerente” e que “a vontade popular deve ser respeitada”.
“O PSD entende que os portugueses votaram há cerca de 11 meses e que este Governo tem nove meses de trabalho”, afirma em entrevista à SIC Notícias. “Não faz sentido o país o andar de eleições em eleições, de nove em nove meses.”
Para o representante do PSD, as verdadeiras preocupações da população portuguesa neste momento são o aumento do custo de vida e das taxas de juros, os impostos que paga e os problemas que existem nos serviços públicos. “Somar a isso uma crise política que resulta em eleições, é somar instabilidade aos problemas da ida das pessoas”, afirma.
Quando questionado se o PSD não está a ser ultrapassado pelos partidos opositores do espetro da direta, Hugo Soares responde que “o PSD é um partido de Estado, não é um partido de protesto”.
“Se entendermos que ser ultrapassados é gritar mais ou querer que o Governo caia todos os dias, então o PSD é sempre ultrapassado. O PSD não é esse partido. O PSD não e um partido irresponsável.”
Para Hugo Soares “ser oposição não significa estar a pedir eleições todos os dias”. Aponta ainda o dedo a António Costa por ser “quem mais tem contribuído para instabilidade política”.
“O que nós exigimos é que o Governo governe bem, que responda às necessidades das pessoas em concreto. Se isso não acontecer, se o Presidente da República entender que deve haver eleições legislativas em Portugal, se o primeiro-ministro se sentir incapaz, então o PSD está aqui para assumir as suas responsabilidades, como sempre esteve no passado”, garante.
António Costa está a confessa-se “incompetente face ao que escolheu há nove meses”
Perante as alterações que têm sido feitas no Governo nos últimos nove meses – com 11 membros do Executivo a deixarem funções – Hugo Soares considera que António Costa está a confessar-se “incompetente face ao que escolheu há nove meses”.
“O primeiro-ministro já mudou 11 membros do Governo, já mudou a orgânica do Governo. Mas o primeiro-ministro está a pensar em quê? No lugar que quer ou gostaria de ter na Europa? Se for assim que o assuma”, desafia, sublinhado que António Costa “tem de sumir as suas responsabilidades”.
sobre a saída de Pedro Nuno Santos do Executivo, Hugo Soares considera que não foi uma decisão de António Costa, mas sim do próprio ex-ministro. Lembra ainda que o primeiro-ministro tinha garantido que “a continuidade de Pedro Nuno Santos não estava em causa” dias antes.
“O ministro Pedro Nuno Santos sai do Governo, na minha convicção, porque percebeu que estava a fritar em lume brandi pelo próprio primeiro-ministro”, afirma. “O ministro Pedro Nuno Santos saiu porque quis, porque não quis continuar agarrado a este Governo, que ele já percebeu que vai acabar mal.”
"O ministro das Finanças é verdadeiramente incompetente, negligente e ligeiro"
Para Hugo Soares, mais importante do que discutir uma moção de censura ao Executivo, é debater os problemas que existem no Governo. Um em particular: Fernando Medina, ministro das Finanças.
“[António Costa] ainda não foi capaz de responder se o ministro das Finanças de facto não sabia que a engenheira Alexandra Reis tinha recebido aquela indemnização da TAP. O ministro das Finanças é verdadeiramente incompetente, negligente e ligeiro porque ele convidou para assumir, primeiro uma empresa pública e depois o lugar de secretária de Estado dele, sem saber porque razão Alexandra Reis tinha saído da TAP”, afirma o secretário-geral do PSD lembrando que Medina já estava fragilizado devido à “contratação falhada de Sérgio Figueiredo”.
Hugo Soares critica também o “caos” que se vive nos serviços públicos, enquanto os cidadãos e as empresas pagam “impostos máximos”. E censura a gestão feita pelo Governo de António Costa na TAP, sublinhando que “há muito por esclarecer” na companhia aérea.
“O que aconteceu na TAP nos últimos anos foi um crime político e um crime financeiro. Político porque havia uma decisão que estava tomada: a TAP estava a ser gerida por conta e risco de privados e houve um Governo ainda em 2016 – muito antes da pandemia – decidiu renacionalizar a TAP com o nosso dinheiro. Entretanto, foi preciso recapitular a TAP com o nosso dinheiro e é o mesmo governo que agora diz que a TAP deve ser privatizada.”