O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, confirmou hoje as buscas da PJ na terça-feira nas instalações da autarquia, esclarecendo que se referem a “mandatos anteriores”. Ainda assim, anunciou que vai propor ainda este mês a criação na autarquia de um “departamento anticorrupção”.
À margem da inauguração do novo escritório da Glovo em Lisboa, o autarca social-democrata foi instado a comentar as buscas realizadas pela PJ.

"Confirmo essas buscas na Câmara Municipal de Lisboa. Confirmo que essas buscas se referem a mandatos anteriores, a executivos anteriores ao meu. Confirmo que estamos a colaborar em tudo e, portanto, a Câmara Municipal vai colaborar obviamente com a justiça", prosseguiu.
Hoje em dia, acrescentou, "realmente é importante dar o exemplo na política", recordando que foi "o primeiro presidente da Câmara de Lisboa a criar um pelouro exatamente naquilo que é a transparência, no combate à corrupção".
"Ainda este mês vou apresentar a proposta à Câmara Municipal de criação de um departamento anticorrupção", anunciou o autarca, considerando que ser “importantíssimo que todos os processos sejam totalmente transparentes dentro da Câmara Municipal”
Objetivo do esquema seria o financiamento ilícito do PS
A Câmara Municipal de Lisboa confirma as buscas da Polícia Judiciária (PJ) no departamento de Urbanismo da autarquia, mas remete todas as explicações para as autoridades judiciais. Há suspeitas de corrupção e participação económica em negócio na altura em que Fernando Medina era presidente.
A história denunciada em 2018 pelo jornal Público só agora, mais de cinco anos depois, resulta numa operação de buscas da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ.
Em causa estão suspeitas de irregularidades entre 2015 e 2017 na contratação da empresa de Joaquim Morão, histórico socialista e antigo autarca de Castelo Branco e de Idanha-a-Nova, para a gestão das obras públicas em Lisboa.
A investigação acredita que o objetivo do esquema seria o financiamento ilícito do PS, através da angariação de dinheiro em obras públicas com subornos de empreiteiros, ou seja, os chamados “saco azuis”.
Morão foi consultor da Câmara até setembro de 2018 e durante dois anos. Para o contratar, o município terá simulado uma consulta ao mercado recorrendo por duas vezes a empresas prestadoras de serviços de um amigo de Morão.
Fernando Medina atual ministro das Finanças era à data presidente de Câmara. Os contratos terão sido assinados há sete anos pelo então vereador do urbanismo Manuel Salgado ambos são agora visados neste inquérito que corre no Departamento de Investigação e Ação Penal Regional de Lisboa.
A Câmara confirma a operação de buscas no departamento de Urbanismo, mas remete todas as explicações para as autoridades judiciais.
Neste inquérito, segundo a investigação, estão em causa crimes de corrupção participação económica em negócio e falsificação.
PS nega “categoricamente”
Num curto comunicado enviado às redações, “face a notícias vindas a público”, o gabinete de imprensa do Partido Socialista (PS) assegura que “não recebeu apoios financeiros ou materiais por parte de empresas”.
Sustentando-se na “Lei”, o PS justifica que “apenas são admitidos donativos de pessoas individuais, devidamente identificadas”, acrescentando que “os donativos realizados encontram-se inscritos e identificados nas contas oficiais do Partido, apresentadas à Entidade das Contas e Financiamentos Políticos”.
Assim, conclui, “o PS rejeita categoricamente as alegações de financiamentos fora do estrito quadro legal”.
Na quarta-feira à noite, a TVI/CNN Portugal noticiou que a PJ realizou na terça-feira buscas na Câmara Municipal de Lisboa por "suspeitas de corrupção, participação económica em negócio e falsificação" numa nomeação para "prestação de serviços que foi assinada em 2015" pelo então presidente da autarquia, e atual ministro das Finanças, suspeitando-se de financiamento do PS.