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"Governo tem muito dinheiro para distribuir e vai usá-lo até às europeias"

A análise e o comentário de Bernardo Ferrão, jornalista da SIC, e a Paula Santos, jornalista do Expresso.

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Terminado o segundo debate do ano com António Costa no Parlamento, que ficou marcado por anúncios sobre revisão de salários da Função Pública, impostos, nomeadamente o IVA, e preços de alimentos, Bernardo Ferrão e Paula Santos fizeram, na antena da SIC Notícias, um balanço do debate.

"O que o primeiro-ministro fez hoje foi anunciar uma série de intenções sem concretizar", destacou Paula Santos. No mesmo sentido, Bernardo Ferrão considerou que este debate serviu para António Costa mostrar "uma nova cenoura aos eleitores".

E, prosseguiu, "vai ser muito assim a partir de agora, nestas jogadas táticas, políticas, a pensar nas próximas eleições que aí estão - no caso, as europeias. Acho que foi isso que aconteceu com este caderno de medidas para a habitação e estes anúncios [de hoje], ainda não muito bem explicados, (…), são claramente dar dinheiro numa altura em que o Governo e o PS percebem que há uma fuga de eleitores e que têm de fazer qualquer coisa”.

Mas, "de facto, o plano para a habitação está a correr francamente mal. Como diz Luís Montenegro, esta questão do arrendamento coercivo das casas é uma medida que ninguém elogia”.

Por isso, António Costa deixou hoje no ar a possibilidade de estarmos perante “uma medida que pode ser ou suavizada ou mesmo retirada” porque “levanta inúmeros problemas”. Há, aliás, “vários autarcas - inclusive do PS - que não querem essa medida”.

Sobre a lei que o chefe do Governo levou para o debate, e que segundo Costa compromete “três sábios”, Assunção Esteves, Cavaco Silva e Passos Coelho, Bernardo Ferrão considerou que António Costa o fez para dizer que “isto não é do punho dele é de outros” e, claro, é uma “resposta à crítica muito dura” feita pelo antigo Presidente da República.

Mas, explicou o jornalista da SIC, a lei a que Costa se referiu aborda de facto a questão do arrendamento coercivo, mas “numa lógica de proteção de terceiros, ou seja, as câmaras podem tomar conta de determinados edifícios se estiverem num estado tal de degradação, e se os proprietários não fizerem obras, e as câmaras tomam conta delas”.

“António Costa tentou fazer um número político com esta lei, mas penso que neste momento o Governo já está em prejuízo, está a tentar remediar e explicar medidas que foram muito mal compreendidas (…) e depois há a questão jurídica, é preciso perceber o que é uma casa devoluta”, destacou Bernardo Ferrão lembrando as críticas do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa.

Medidas “mal trabalhadas e estudadas”

A habitação “é um problema” para milhares de portugueses "que têm dificuldade em aceder a uma habitação digna e de repente o Governo apresenta uma série de medidas, na minha opinião, mal trabalhadas e estudadas". Além disso, nos últimos anos, o Executivo fez várias coisas que chegaram a ser "prioridade e agora deixam de existir”.

Por exemplo, ao longo dos últimos sete anos, “o Alojamento Local (AL) foi incentivado, em muitos momentos [mas] agora é um papão. Não há uma estabilidade, e essa instabilidade também se traduz na forma como os outros nos veem lá fora, nomeadamente dos investidores que começam a perceber que há algum risco no investimento em Portugal”.

Há aqui uma "lógica taticista de tentar reter o eleitorado que atravessa grandes problemas - devido à inflação, à falta de casa - que depois não vai ter efeitos”, concluiu Bernardo Ferrão.

“Governo tem muito dinheiro para distribuir”

Recorrendo à notícia desta quarta-feira do Diário de Notícias, que dá conta de que só a inflação dá folga de 3,2 mil milhões de euros ao ministro Medina para apoios que podem ir até 2024, Bernardo Ferrão afirmou que o “Governo tem neste momento muito dinheiro para distribuir”. Uma opinião partilhada por Paula Santos.

“Provavelmente vai usar este dinheiro até às eleições europeias. E isso começou a perceber-se no debate de hoje”, considerou.

O mesmo Governo que “até então não podia dar” vai passar a adotar uma “gestão tática até às próximas eleições e com entrega de dinheiro, isso sem dúvida”, acredita Bernardo Ferrão da SIC.