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"Anomalia" no habitual processo de vacinação era "evitável"

Tiago Correia, especialista em saúde internacional, analisa o que poderá ter falhado para que o Ministério das Finanças demorasse seis meses para autorizar a compra de vacinas para o plano nacional.

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Tiago Correia, especialista em saúde internacional e comentador da SIC, enumera as razões que podem ter levado à relativa escassez de vacinas que já se verificou em vários centros de saúde nacionais.

O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, garante que não existe falta de vacinas, mas sim uma gestão prudente do "stock". Tiago Correia garante que esta situação não é uma estratégia, mas sim uma gestão "mais racionalizada" dos recursos, indo ao encontro das palavras do ministro.

Refere, no entanto, que se verificou "uma anomalia" no normal processo de vacinação.

"Houve pessoas legíveis para a vacinação, sobretudo crianças e jovens, que não se puderam vacinar no momento ideal em virtude desta anomalia no processo de compra de vacinas", constata.

“Não é correto dizer que tenha havido uma rotura de “stock””

O especialista vinca que "não é correto dizer que tenha havido uma rotura de "stock", mas houve um racionamento de vacinas para garantir, precisamente, que as pessoas numa situação mais crítica não ficassem sem as vacinas".

Nota que a situação anómala apenas foi revertida graças a uma notícia avançada pela SIC que deu conta da compra de vacinas por parte de alguns centros de saúde, a preços elevados, por não terem um número suficiente em “stock”.

O Ministério das Finanças estava há seis meses para autorizar a compra de vacinas para o plano nacional e só esta quarta-feira deu luz verde ao processo.

Tiago Correia explica esta situação com "a excessiva interferência do Ministério das Finanças naquilo que é a gestão do Ministério da Saúde".

Como se processa a compra de vacinas?

O especialista explica que no final de cada ano civil, o Ministério da Saúde faz um levantamento da quantidade de vacinas necessárias a nível nacional. Depois de reunida essa informação, o pedido segue para as Finanças para que, dessa forma, seja dada a autorização de aquisição.

A compra de vacinas, no início do ano civil seguinte, permite "uma gestão a longo prazo" por parte dos centros de saúde. Esta situação não se verificou em 2023, o que levou à escassez de vacinas denunciada pela SIC.

"Das duas uma, ou foi o famoso caso das cativações, que não permitiu a aprovação financeira de uma coisa absolutamente regular, normal, padronizada no funcionamento do Ministério da Saúde, ou então o papel ficou esquecido, e é isto que parece grave", aponta.

Questão foi solucionada em 24 horas

A verdade é que o problema foi resolvido em 24 horas e, por isso, Tiago Correia questiona:

"Porque é que um pedido de uma entidade centralizada do Ministério da Saúde tem que ir para o Ministério das Finanças para aquilo que é a atividade regular do Ministério da Saúde"?

Para o comentador esta era uma situação completamente "evitável". Contudo, ressalva que não acredita "que tenha havido um risco de saúde pública". Informa ainda que pediu dados junto da Direção Geral da Saúde acerca da execução do Plano Nacional da Saúde, mas que os mesmo não lhe foram disponibilizados.