O vice-presidente da câmara de Gaia é suspeito de ter recebido cerca de 125 mil euros e vários relógios de luxo para facilitar os empreendimentos do grupo Fortera. Mas voltemos atrás, para perceber o que aconteceu.
23 de junho de 2021
Há praticamente dois anos, Paulo Malafaia e o empresário israelita Elad Dror foram dos primeiros a entrar no balcão do BPI em Matosinhos para levantar 100 mil euros.
Duas horas depois, o dinheiro foi transportado num saco para o NorteShopping e 99.600 euros foram entregues ao advogado João Lopes, numa das casas de banho do centro comercial.
Com os restantes 400 euros, foi comprada uma coluna de som numa loja da Apple e, segundo os investigadores - que vigiavam todos os passos - o dinheiro e a prenda acabariam nas mãos de Patrocínio Azevedo, o vice-presidente da câmara de Gaia, agora detido por suspeitas de corrupção.
Os indícios apontam para o recebimento de luvas, por parte do autarca, durante pelo menos quase dois anos, como moeda de troca para facilitar os negócios do Grupo Fortera na Câmara de Gaia.
Meses antes, a 26 de janeiro de 2021
Patrocínio Azevedo é suspeito de ter recebido mais 25 mil euros. Nas entregas, os investigadores contam ainda três relógios de luxo:
- A 15 de dezembro de 2019 um relógio suíço de série especial no valor de 3.100 euros
- Em novembro de 2021, outro ligeiramente mais caro no valor de 3.320 euros
- Quase um ano depois, em 2022, mais um relógio no valor de 4.250 euros
Nas escutas telefónicas, o advogado - também conhecido por ‘Gorila’ - aparece como o homem que faz a ponte com o vice-presidente da Câmara, elogiando a capacidade do autarca em facilitar soluções e pedindo constantemente subornos.
18 de fevereiro de 2021
João Lopes conversa com Paulo Malafaia sobre os avanços no projecto Riverside.
“Já consegui mais um piso. O problema são os técnicos. Tratado com pinças”.
“E o vice está a dar tudo o que pode…”
Quase dois meses depois, o advogado volta a lembrar que é preciso manter a porta aberta: “o adoçar… devia ser feito antes de quinta-feira”.
Segundo a investigação, João Lopes refere-se ao vice-presidente da Câmara de Gaia, uma prática que aponta para crimes de corrupção ativa e passiva, prevaricação e abuso de poderes.