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Operação Picoas: empresas usariam familiares como testas-de-ferro

Grande parte do dinheiro que alimentava o esquema viria da própria Altice, que pagava aos fornecedores e que eram forçados a fazer negócio com as intermediárias em vez de contratarem diretamente.

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Hernâni Vaz Antunes e Armando Pereira são suspeitos de terem criado um esquema que envolvia mais de 40 empresas. Os documentos a que a SIC teve acesso mostram que essas sociedades tinham como sócios familiares ou pessoas em quem confiavam que, na realidade, seriam apenas testas de ferro para ocultar quem eram os verdadeiros donos das empresas.

No total, as várias empresas na esfera de Armando Pereira e Hernâni Vaz Antunes conseguiram contratos de 660 milhões de euros com a Altice. Os investigadores têm em conta as transferências que chegaram a dezenas de sociedades, mas sobretudo, a estas cinco.

Só uma delas, a Edge Technology, faturou quase 270 milhões de euros, em vez de a Altice fazer as compras de equipamento diretamente às chinesas Xiaomi e Huawei, era esta empresa servia de intermediária e ficaria com uma comissão.

A Edge Technology detém participações em pelo menos seis empresas e é detida por um fundo e uma sociedade, que por sua vez são detidas por outras sociedades que têm no centro as mesmas pessoas, acredita a investigação.

Empresas lideradas por familiares e amigos

Hernâni Vaz Antunes e o fundador da Altice, Armando Pereira, seriam os beneficiários dos milhões que este esquema permitiu angariar, não só através destas cinco empresas - as que mais faturaram - mas de muitas outras.

Para dissimular a propriedade das sociedades, foram criadas mais de 40 empresas em sítios diferentes que se detinham umas às outras e que eram geridas ou propriedade de familiares diretos ou de pessoas de confiança de Hernâni Antunes ou Armando Pereira.

Entre os proprietários estão, por exemplo, as filhas de Hernâni Vaz Antunes, ou compadre de Armando Pereira, pai de Yossi Benchetrit, casado com a filha de Armando e responsável de compras da Altice nos Estados Unidos.

Compra de apartamento nos EUA

O casal foi notícia depois de ter comprado um apartamento por 70,5 milhões de dólares, no 432 da Park Avenue, e que foi considerada a compra mais cara feita em Nova Iorque nos últimos anos.

A mulher é precisamente a filha do fundador da Altice, estrela de dança num concurso na televisão americana.

Diz agora, o Wall Street Journal, que, afinal, o casal já tinha outro apartamento de 24 milhões, no mesmo prédio.

Os investigadores analisaram o circuito do dinheiro que se deslocaria de sociedade para sociedade em função das necessidades.

Dinheiro deslocava-se entre as várias sociedades

Por exemplo, quando os arguidos quiseram comprar este prédio, os antigos escritórios da SAPO, na Fontes Pereira de Melo, em Lisboa, terão forjado contratos de assessoria e consultoria entre as empresas. Assim, conseguiram justificar a transferência de quase dois milhões de euros, o dinheiro que precisavam para pagarem o sinal da compra deste prédio à MEO.

Fornecedores obrigados a lidar com intermediárias

Grande parte do dinheiro que alimentava o esquema viria da própria Altice, que pagava aos fornecedores e que eram forçados a fazer negócio com as intermediárias em vez de contratarem diretamente.

Um dos casos é o da seguradora Sabseg, que, entre 2017 e 2022, pagou serviços no valor de 8,1 milhões de euros a uma destas empresas da esfera de Henrique Vaz Antunes.

A investigação acredita que esses pagamentos eram uma condição para que a seguradora conseguisse contratos com a Altice.