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Análise à entrevista de Costa: "Imbatível nos números," mas com "braço de ferro para durar" com professores

Paula Espírito Santo, professora de Ciência Política do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa, analisa a entrevista do primeiro-ministro à TVI/ CNN Portugal, onde o responsável falou, entre outros assuntos, do aumento do salário mínimo, dos problemas na habitação e das negociações com os professores.

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Paula Espírito Santo, professora de Ciência Política do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP-ULisboa), considera que o primeiro-ministro, que deu na segunda-feira uma entrevista à TVI/CNN Portugal, é "imbatível nos números", uma vez que apresenta "todos os detalhes". Em relação à habitação, defende uma maior coordenação da parte do Executivo. Quanto aos professores, diz que, perante as questões por resolver, o "braço de ferro" entre o Governo e os professores "está para durar".

"Imbatível nos números"

"Vemos um Costa imbatível nos números. É a forma que ele tem de fazer ou de comunicar a política. Ele vai buscar todos os detalhes em termos de dados que temos. E também há algumas promessas, como o aumento do salário mínimo em 2024, e dados, como um aumento de cerca de 50% nos últimos 10 anos", afirma.

Na entrevista, o primeiro-ministro assegurou que o Governo não travará um aumento do salário mínimo superior a 810 euros no próximo ano e confirmou, também, um aumento das pensões no próximo ano de 6,05%.

Quanto à contestação do povo, a professora refere que o primeiro-ministro está "solidário e também frustrado".

"Dá-nos os dados da Segurança Social, em que houve um encaixe para as famílias de mil milhões de euros, que acabam por ficar permanentes. Significa que há despesas do Estado que vão sendo assumidas e que de alguma maneira são uma almofada ou conforto para as famílias. Contudo, vemos que a realidade nem sempre expressa bem estes números, que acabam por ser globais e abstratos", indica Paula Espírito Santo.

Habitação

Em relação à habitação, António Costa, que assumiu que há um sério problema, garantiu que não será repetido o travão do aumento das rendas "nos moldes do ano passado", a 2%.

"Não sabemos ainda o valor, até porque não pode comprometer-se na medida em que está ainda a dialogar com as associações de proprietários e de inquilinos", aponta.

A professora universitária salienta que o primeiro-ministro fala em duas "visões opostas": a dos inquilinos e dos proprietários. Refere também que as "resoluções tomadas" para a habitação jovem "não chegam".

Por outro lado, sobre os acordos com as autarquias, considera que devia haver uma "maior coordenação do Executivo". Para a especialista em Ciência Política, é um assunto que não pode ter medidas que "não sejam aplicáveis, pelo menos, num curto espaço de tempo".

Educação

Na área da educação, em que o primeiro-ministro rejeitou a contagem integral do tempo de serviço dos professores, alegando que é "insustentável", Paula Espírito Santo considera que, além da saúde, foi o aspeto "com menos resposta".

“O que nos disse foi que havia um novo modelo de colocação de professores. Mas depois as questões centrais e, sobretudo, a questão da atualização dos valores para que a carreira se torne mais atrativa e que contabilize tempo está por resolver. Penso que é esse braço de ferro está para durar e que pode fragilizar mais a política da educação”.