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Entrevista SIC Notícias

SNS: antigo ministro da Saúde alerta para "problemas de resposta imediata às populações"

Em entrevista na SIC Notícias, Luís Filipe Pereira analisa a contestação dos médicos e a crise que está a gerar no SNS. O antigo ministro da Saúde diz que "é inevitável ir ao encontro dos médicos" e pede uma resposta "urgente" do Governo.

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As urgências dos hospitais estão condicionadas ou encerradas, um pouco por todo o país, devido à recusa dos médicos em fazer mais horas extraordinárias. Para o antigo ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, "é inevitável ir ao encontro dos médicos" e "o Governo tem que encontrar uma solução que restabeleça a normalidade e a estabilidade no Serviço Nacional de Saúde (SNS)".

O antigo ministro da Saúde dos Governos de Durão Barroso e Santana Lopes critica a falta de planeamento nos últimos anos e a falta de capacidade para reter médicos em Portugal, o que, no seu entender, terá contribuído para algumas das graves lacunas do SNS.

"Diria que é imperativo que haja de facto um acordo porque a situação atual está-se a generalizar. Daqui a pouco temos grande parte do SNS com problemas de resposta imediata às populações e isso é inaceitável", alerta Luís Filipe Pereira.

O economista que liderou o Ministério da Saúde entre 2002 e 2005 refere estatísticas internacionais que indicam que Portugal, em 2020, "era o oitavo país do mundo com mais médicos por 1.000 habitantes" e, de acordo com a Pordata, "em 2001 tínhamos 3,15 médicos por 1.000 habitantes e em 2021 tínhamos 5,6, o que significa um acréscimo de 70% ou mais".

“Aquela onda de médicos que iniciaram atividade nos anos 70/ 80 foram-se reformando e não houve capacidade do sistema de recrutar, de atrair novas pessoas, nem reter, porque essas pessoas sentem-se insatisfeitas, muitas vezes até pela organização que nos últimos anos tem sido bastante má, além do problema da remuneração e, sobretudo, porque o setor privado não era o mesmo que era há 15 anos atrás, há 10 anos”, explica o antigo ministro.

Luís Filipe Pereira sublinha que o aumento do setor privado é responsabilidade do setor público: “Como as pessoas não têm resposta, são obrigadas a ter um seguro de saúde, há mais de 50% das pessoas que de uma forma ou outra vão ao privado porque o SNS não lhes dá resposta” e “o setor privado neste momento aumentou a sua procura e tem melhores condições para dar aos médicos”.

O antigo governante, do Partido Social Democrata, aponta várias críticas ao Governo e à direção executiva do SNS. Em relação à contestação dos médicos e à crise que está a gerar nos serviços de saúde, o antigo ministro considera: “Esta situação tem que ser resolvida muito rapidamente, eu diria de uma forma urgente, porque há centenas de milhares de pessoas, não posso quantificar, se calhar milhões de pessoas que são afetadas diariamente pela incapacidade de um SNS que no passado respondia melhor do que está hoje a responder”.

“Vemos que a direção executiva, passado um ano, ainda não tem estatuto aprovado e já agora, deixe-me dizer, a direção executiva, um CEO, ou seja, um presidente de um conselho, de uma organização como a Saúde, tem cerca de 150 mil pessoas e tem um orçamento corrente 14 mil milhões (…) passado um ano não temos ainda resultados concretos”, refere.