Os utentes da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) de Moscavide têm de passar a noite ao relento para conseguir marcar uma consulta. Alguns chegam mais de 12 horas antes do centro de saúde abrir portas. Muitos dos que aguardam não conseguem uma senha.
Perto das 07:00, alguns utentes ainda dormiam na fila para o UCSP de Moscavide. Dezenas de pessoas chegam durante a noite para garantir que recebem uma senha que lhes permita ser atendido por um médico.
Dormem no chão, envoltos em mantas. Alguns utentes trazem um colchão, procurando algum conforto durante a longa espera. Há também que opte por dormir no carro só para não perder o lugar na fila. Mas chegar horas antes não quer dizer que vão receber a senha.
Uma utente aguarda na fila pelo segundo dia consecutivo. Chegou à 01:00 na esperança que seja desta que consiga uma consulta para mostrar os exames que fez. No dia anterior, tinha chegado às 02:00 e não consegui senha.
“Já cá estive ontem [segunda-feira] e voltei hoje [terça-feira]. Não sei se vou conseguir senha”, conta à SIC Notícias, sublinhando que esta situação é “muito revoltante”.
Um outro utente, que também aguarda a abertura do centro de saúde desde 02:00, pede respeito aos políticos.
“É a terceira vez que cá venho e que me mandam embora porque não há médico. Vou começar a viver aqui”, afirma, revoltado com a falta de alternativas.
Na fila há pessoas diabéticas e grávidas, pessoas com diferentes doentes que têm uma coisa em comum: não têm médico de família atribuído. Por essa razão têm de aguardar por uma senha para que possam ser atendidos por um médico de clínica geral. Por dia são distribuídas entre 15 e 20 senhas.
Vinte senhas foram distribuídas às 08:00
Quando o centro de saúde abriu, Maria da Conceição recebeu uma das primeiras senhas. Chegou às 21:00 de segunda-feira, o que significa que esperou 11 horas para ser atendida.
“Graças a Deus que consegui. Dos que estão aqui desde ontem [segunda-feira], muitos não vão conseguir porque só deram 20 senhas”, explica. “Da última vez não consegui. Eu tenho exames para apresentar, que sou diabética e preciso de levantar medicamentos.”

Um outro utente queixas de estar desde maio para marcar uma consulta. Enquanto aguarda na fila, mostra as reclamações que já vez junto do serviço de saúde.
“Os recursos que têm de ser aplicados no Serviço Nacional de Saúde (SNS) estão a ser desviados para outros fins que não são os fins que interessam à população em geral. É isto que não podemos esquecer”, critica
No UCSP de Moscavide há 21 mil utentes sem médico de família. O atendimento é por ordem de chegada, o que obriga a longas esperas para conseguir uma senha. As filas durante a noite são uma situação recorrente, que se agrava com a greve dos médicos às horas extraordinárias.