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"Debate do OE2024 foi dos mais pobres que me lembro de ver"

Quantidade nem sempre é qualidade, segundo David Dinis e Bernardo Ferrão que comentam o discurso de João Galamba e o debate de dois dias que incidiu sobre a generalidade do Orçamento do Estado para 2024.

João Galamba
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Após dois dias de debate, um discurso de meia hora de João Galamba em representação do Governo e a aprovação na generalidade do Orçamento do Estado, Bernardo Ferrão e David Dinis, diretor-adjunto do Expresso, analisam a postura do Parlamento perante um dos debates “mais nobres” da política portuguesa.

João Galamba foi o representante do Governo no encerramento do debate sobre o Orçamento do Estado para 2024 e o seu discurso durou 30 minutos, após todas as intervenções dos partidos no púlpito da Assembleia da República.

Para David Dinis, diretor-adjunto do Expresso, o discurso do ministro das Infraestruturas não esteve à altura do momento.

“Foi um debate muito, de forma simpática, árido, sobretudo o encerramento, sendo do mais pobre que me lembro de ver em Orçamentos do Estado (OE). Os OE são o debate do Parlamento, o momento mais nobre, porque pré-define boa parte das políticas públicas do Governo do próximo ano. E, como tal, o Governo deve escolher alguém para encerrar o debate com peso político, com muita força e com nível de oralidade escorreito”, explica o jornalista.

No entanto, David Dinis diz que o que se verificou durante meia hora no púlpito foi “um João Galamba em enorme fragilidade política”, pelos acontecimentos dos últimos meses, mas, especialmente, depois do que aconteceu no final da semana passada, “em que o Presidente da República devolve um diploma sensível da privatização da TAP”.

"Não houve uma palavra do Governo sobre a TAP. João Galamba fala durante meia hora num tom difícil de seguir, mesmo para quem tem interesse em discursos políticos. João Galamba só tem um momento de espontaneidade nas Autoeuropa e quando fala sobre o que antes tutelava, sobre a energia", conclui o jornalista do Expresso.

Para Bernardo Ferrão, o debate na generalidade do OE2024 que durou dois dias não refletiu o que realmente se passa no país, nomeadamente a crise pela qual o setor da Saúde está a passar.

“Este debate não reflete o que se passa no país, desde logo no encerramento não ouvimos sobre o caos que está na saúde. Amanhã é dia 1 de novembro, quando começa o mês dramático, segundo o diretor Executivo do SNS. Mas a questão de Galamba é uma guerra que entretém o primeiro-ministro, mas que faz pouco sentido para quem segue o debate e está preocupado com as questões do país”, explica Bernardo Ferrão.

Da mesma forma, o diretor-adjunto da SIC realçou que houve, de novo, um retrocesso aos tempos de Pedro Passos Coelho que lhe parece “bizarro”.

"Ou o PS e António Costa começam a ficar preocupados com a hipótese de Pedro Passos Coelho aparecer, ou então estão mais uma vez a tentar fragilizar o PSD e Montenegro com a hipótese na derrota nas Europeias", expõe.

David Dinis discorda de que não se discute o país real no Parlamento, mas que o Executivo de Costa não consegue dar resposta à oposição e aos partidos de esquerda que os questionam sobre como vão melhorar todos os setores em crise.

“O debate no Parlamento anda pobre, mas se ouvirmos os discursos não acho que não se discute o país real, mas existe enorme incapacidade do Governo de dar resposta às dificuldades que os setores estão a viver”, conclui o jornalista.

Selo de aprovação

A maioria absoluta socialista aprovou o Orçamento do Estado para 2024 do Executivo de António Costa na generalidade, no Parlamento, após votos contra de todos os partidos de direita e do PCP e Bloco de Esquerda.

Passaram dois dias de debate na Assembleia da República sobre o OE2024, formulado pelo Ministério das Finanças de Fernando Medina. Desde a Saúde, Habitação, Educação à carga fiscal, a maioria dos partidos não está satisfeito com o documento apresentado pelo Governo socialista.

No entanto, tendo em conta a maioria absoluta, o OE2024 é aprovado no Parlamento na generalidade.