António Costa apresentou a demissão de primeiro-ministro ao Presidente da República na terça-feira depois de o Ministério Público ter anunciado que é alvo de inquérito autónomo no Supremo Tribunal de Justiça. Bruno Costa, analista de Ciência Política, explica os cenários de governação possíveis para o PS e como as outras forças políticas poderão tirar partido.
O PS diz que está pronto para governar, seja através de novas eleições ou até para apresentar um substituto para o primeiro-ministro. Para Bruno Costa há de facto essas duas hipóteses em cima da mesa e dois nomes que podem assumir esse papel dentro do PS.
“Tendo em conta que o caso abala toda a estrutura do Governo e do Partido Socialista, fala-se na possibilidade de dois nomes que o Partido Socialista poderia eventualmente colocar em cima da mesa: do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, ou de do governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, ex-ministro das das Finanças”.
“Estes seriam dois nomes que poderiam ser apontados numa tentativa de permitir que esta maioria parlamentar continuasse o seu caminho e que não houvesse uma interrupção desta legislatura”, diz Bruno Costa.
No entanto, este caminho é bastante complexo e colocaria também algumas divisões dentro do próprio Partido Socialista, tendo em conta os putativos candidatos à sucessão de António Costa. Por exemplo, Pedro Nuno Santos:
“Se o Partido Socialista for para eleições internas em virtude de eleições antecipadas, será difícil que Pedro Nuno Santos não se apresente e não avance com uma candidatura à liderança do Partido Socialista”.
As reações da direita
O PSD demorou cerca de 12 horas a reagir. Luís Marques Mendes diz que o PSD e a alternativa que o país precisa.
“O PSD gerou alguma expectativa com o tempo de resposta a esta situação, ou seja, não é normal, no meu ponto de vista que o principal partido da oposição demore tanto tempo para emitir um comunicado”.
Essa demora levou a que houvesse alguma expectativa relativamente à comunicação ao país de de Luís Montenegro, que não correspondeu às expectativas nem trouxe novidades, considera Bruno Costa.
"No entanto, Luís Montenegro assume um papel de destaque, uma vez que é obrigado a ir a jogo e o PSD é obrigado a ir a jogo com Luís Montenegro. O que não seria tão certo se as eleições legislativas fossem depois do ciclo das eleições para o Parlamento Europeu, onde o PSD jogava uma cartada decisiva relativamente à sua liderança e, portanto, este é o tempo de apresentação de propostas de alternativas.
“Arriscamos que o Chega seja solução para a governação”
O Chega é a terceira força política e surge destacadamente no terceiro lugar em todas as sondagens. O que pode vir a tirar partido desta crise?.
"O Chega irá certamente cavalgar este tema da corrupção é um tema que tem sido referido de uma forma sistemática por André Ventura e, portanto, o caminho é claro, ou seja, aumentar a dimensão do seu grupo parlamentar para, de certo modo, forçar ou condicionar qualquer solução de governação à direita".
“Arriscamos que o Chega seja a solução para a governação ou a força de bloqueio a qualquer alternativa de governação. Vai depender da dimensão do resultado eleitoral do Chega, da decisão dos eleitores nestas hipotéticas eleições antecipadas e nas negociações que decorrem desse período pós-eleitoral”.
Bruno Costa salienta que "os partidos da direita radical que têm assumido posições do poder no contexto europeu também se têm moderado quando depois acabam por assumir essa posição".
À esquerda do Partido Socialista
O Bloco de Esquerda pediu eleições antecipadas.
“Nas eleições legislativas de 2022 houve o receio do Chega poder ascender a uma posição de governo e, portanto, houve um voto útil muito marcado no Partido Socialista. A esquerda do PS ganha aqui, ou recupera, eventualmente, com estas eleições, uma representação parlamentar que perdeu em janeiro de 2022”.
Com a possibilidade também do Bloco de Esquerda lutar por ser a terceira ou quarta força política num resultado que seria bastante positivo para a nova liderança de Mariana Mortágua e com a possibilidade também de partidos como o PAN ou o Livre deixarem de ter uma representação isolada, um deputado apenas no Parlamento .
“Entrar novamente no jogo da do arco da governabilidade é esse o objetivo, certamente dos partidos à esquerda do Partido Socialista”.